Lembro dos festivais, das etapas regionais e de quando os melhores grupos se encontravam em Erechim para uma grande final.
Tempo de debates acirrados com diretores e atores gaúchos como jurados. Profissionais com mais experiência do que os amadores. Aprendemos a suportar críticas, calados. Em paralelo, oficinas de interpretação ou expressão corporal. Todos evoluíam.
Se não desanimavam, o pessoal voltava no ano seguinte mais intrépido.
Alguns grupos de teatro amador eram bastante criativos.
Recordo o excelente Theatrum do Tambo dirigido por Ângela Gonzaga, grupo de Taquara. O pessoal de Passo Fundo e de Santa Maria que mais tarde se profissionalizaria. O grupo do professor Java, de Ijuí, que fazia um teatro mais escolar, com qualidade e filosofia.
Recordo que um primeiro lugar foi para o grupo de Santa Vitória do Palmar que trouxe um belo e triste espetáculo sobre a decadência do circo.
E recordo também que foi no palco amador que assisti pela primeira vez uma montagem de Brecht: “Aquele que diz sim, aquele que diz não.” Nem lembro o grupo ou a cidade, mas o espetáculo me impressionou e calou fundo.
A nossa dúvida sempre pairava sobre o fio divisor entre amador e profissional: por que o amador não podia ter qualidade? Alguns tinham.Hoje penso que, talvez, o teatro amador se diferenciava por unir integrantes sem preparo técnico: escolares e profissionais de outras áreas que se reuniam uma vez por semana para ensaiar. Ninguém dependia do teatro para sobreviver. Era apenas um canal de expressão. Ou de desafogo, por que não? Ou por vaidade?
Os primeiros lugares nos festivais da FETARGS cabiam àqueles cujos textos não vinham imbuídos de teor pedagógico. Teatro-escola era uma coisa. Teatro amador, outra. E isso a gente sabia diferenciar.
Em Lajeado, o grupo Baratas de Palco batalhou durante um bom tempo e participou de três festivais. E, através do Laboratório de Experimentações Teatrais criado em 1991, levou grupos de adolescentes e infantis para festivais em Guaíba e Machadinho. Na bagagem, sempre uma ou duas premiações para aliviar o ego.
Naquele mesmo ano o Baratas promoveu a 1ª Mostra de Teatro Amador do Vale do Taquari, com apoio dos vereadores e uns caraminguás das empresas. Se reformou o palco, o banheiro e o camarim do ginásio da Escola Fernandes Vieira. Vieram os oficineiros da Terreira da Tribo, um grupo de dialeto italiano de Serafina Correa com uma comédia non sense hilária, e outros. No palco da mostra “nasceu” o Elenku de Arroio do Meio.
Importante assinalar que na época, muitos procuravam qualificação através de oficinas com atores e diretores de Porto Alegre. Assim Denize Barella, Paulo Guerra e Daniela Carmona vieram a Lajeado. Amir Haddad foi a Encantado. Ângela Gonzaga em Arroio do Meio. O SESC de Lajeado trouxe a Cia do Latão. Eu fui a São Paulo para uma oficina com Augusto Boal. Era o amadorismo buscando qualificação.
O que restou? Por que parou? – como diz o refrão do bis.
Não sei - bocejo.
Mas, quando hoje assisto espetáculos de teatro amador, percebo que se regrediu. E muito, infelizmente. Dizem que a crise é no país todo. Inclusive entre grupos profissionais. Outros tempos?
No peito um sentimento de derrota – suspiro.
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