sábado, 25 de agosto de 2012

PARABÓLICAS LITERÁRIAS


Nunca li Camões. 
E nesse exato instante não lembro de alguém mais próximo que tenha folheado um livro dele. 
Pena, uma rápida vasculhada googliana revela versos que a gente até já viu por aí:

“Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente...” 

ou

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança...”

Talvez eu padeça de estofo cultural para absorver Camões. Mas não de sensibilidade. 
Conheço uma expressão que leva sua assinatura: “desconcerto do mundo”.

Pois não é justamente do desconcerto da vidinha que a literatura se apropria, criando romances, contos e poesias? Apropria-se das angustias e dos medos da humanidade, da mesquinhez, da ganância e da sordidez para gerar personagens maravilhosos.

A literatura absorve as traições e as paixões, os enganos e desencantos dos outros para inventar enredos e dramas que atravessam os tempos.
Sim, a literatura se alimenta da vida e também da morte dos outros. 
E de tudo isso, mais o próprio desconcerto pessoal do escritor, se nutre a literatura.

Não quero afirmar categoricamente o que já suspeitava: tudo ao nosso redor é material literário. E são os próprios autores em suas palestras, autobiografias, entrevistas em jornais e revistas que esclarecem e desmistificam suas obras: “ta tudo aí, dentro e fora de casa.” 
Sim, Machado de Assis, poeta, cronista, romancista que o diga. 
Do cotidiano das ruas de um Rio de Janeiro provinciano para as paginas de “A mão e a luva” que, aliás, não é de espantar o sucesso que fazia Machadinho: ascensão social é tema para fofocar – ou escrever - até hoje. 

A troca de amores e favores, os interesses por amizades – tudo o que nos ajuda a galgar degraus no nosso emprego, no grupo social, na paróquia, o desconcerto das relações humanas, a literatura absorve e transforma em “Laços de Família” ou “Vidas Secas”.

E assim eu, de alguma forma, cheguei até “Intrigas da Colônia”, com lançamento agendado para a próxima 4ª-feira, 18h, na Palavraria – Livraria e Café, no bairro Bom Fim, rua Vasco da Gama, 165, em Porto Alegre.

A gente se vê?

* Minha crônica deste findi nos jornais  A Hora, Lajeado e Opinião, Encantado.


Um comentário:

Marisa disse...

Profunda tua crônica. Falaste em Camões e Machado de Assis. Recebi da Marlene Spohr, coordenadora de Letras, da Univates, pedido para divulgar o site www.dominiopublico.gov.br que corre o risco de ser desativado, por falta de acessos. Há mais de 300 obras, que podem ser baixadas gratuitamente. Fernando Pessoa, Machado, Camões, Saramago e muito mais estão lá. Vale aa pena acessar. Nao pode ser desativado! Parabens pela crônica.