sexta-feira, 31 de julho de 2009
A CRÔNICA DO ROBERTO
Era uma manhã muito fria. Cerração intensa.
Três rapazes entraram na Pasqualini, mais ou menos onde hoje fica a fruteira do Degasperi, no bairro São Cristóvão.
A estrada ainda não era pavimentada e tinha como piso, terra com cascalho fino. Em passo acelerado, escorregando no cascalho embarrado, comentavam a vibrante noitada que tiveram com as meninas de vida fácil da Casa da Selminha.
- Nem sei quantas vezes escutei a minha dizer: paga uma cuba, bem.
Após uma gargalhada, o outro diz: A minha também. Já o terceiro soltando a fumaça de uma tragada confirma que também tomaram muitas cubas.
- Então acho que tomamos todas - reforçou o primeiro.
Naquela época, dali até o centro era uma caminhada e tanto, portanto chegar a tempo de pegar o Piraí - Conservas era o objetivo dos três.
A neblina não permitia ver muito longe, mas escutavam que logo abaixo havia o motor de um veículo aquecendo.
Mais uma quadra e lá estava o quadradão.Tinha um motor tipo Hesselman e queimava óleo cru.
Nos dias de frio intenso era ligado uns minutos antes para aquecer e equalizar o giro.
Enquanto isto não acontecia, ele produzia um som que passava da lenta para uma rotação alta e, vice versa. Quando estabilizava, o motorista sabia que podia colocar a marcha e sair sem problemas.
Entraram no ônibus e notaram que no seu interior já havia alguns passageiros aguardando a saída, como também se protegendo do frio. Não precisaram combinar nada, bastou um olhar entre os três, e as cubas fizeram efeito.
Motor ligado, motorista e cobrador sabe-se lá aonde, e eles movidos a álcool. Que oportunidade para aprontar mais uma e finalizar a noitada com chave de ouro. Não deu outra.
Elpídio sentou ao volante, engatou a marcha e desceram em direção ao centro de Lajeado, cumprindo a linha normalmente. Os outros dois fazendo o trabalho de auxiliares, ajudavam na entrada e saída dos passageiros em todas as paradas, e ainda comunicavam em bom som: hoje é de graça! Passando a cidade, chegaram até o fim da linha, que ficava em Conservas. Nesse meio tempo a policia foi avisada e através de informações foram na mesma direção.
Como a brincadeira tinha sido muito divertida, os três amigos resolveram fazer novamente o trajeto retornando para o Piraí. No meio do caminho foram barrados e presos pela polícia.
Todos eram de famílias tradicionais, como também famosos por outras proezas. Após levarem uma boa refrega da autoridade, só saíram da delegacia depois de pagar o valor das passagens não cobradas.
Roberto Ruschel
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6 comentários:
"Paga uma cuba, bem?"...Frase famosa, na mente de uma geracao de Lajeadenses. Outra frase marcante era"volta na hora do fecha" direcionada mais aos "habitues", que desta forma dispensavam a cuba. Hoje, se alguem fosse "emprestar"um bus, seria recebido a bala!Bons tempos hein Roberto? Ninguem se machucava, apenas o orgulho do dono do onibus e o "bolso" dos cumplices. He,he,he...So valeu...de novo!
Vocês acham isso bonito? Contam como se fosse a maior proeza? Ahh, vai ver porque os rapazes eram de "famílias tradicionais"... daí pode, né?
Roubaram um ônibus, dirigiram embriagados, consequentemente colocaram vidas em risco.
Depois querem cobrar seriedade do Sarney. Ele também é de família tradicional. Também só está "pegando emprestado", sem machucar ninguém a não ser o orgulho e o bolso dos cúmplices.
E aí Roberto!
Sensacional!Ainda bem que alguém como tu deixa registrado para a posteridade essas histórias de Lajeado.
Parabéns!
Vou continuar esperando mais!
Quem sabe escrever o Anedotário de Lajeado?História é que não falta!
Saudações!
Álcio Grün
como disse acima, bons tempos "aqueles"!
Bons tempos era, quando chovia, a serragem no chão do ônibus. alguém lembra disso? me sentia num galinheiro quentinho com as luzes amarelas dentro do "imigrante".
Bacana a história do Piraí Free...
Boa iniciativa contar passagens leves e de caráter festivo e sem maldades..Parabés ao autor....
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