Para cruzar o vale e chegar até o povoado de Guajabetal a família utiliza uma espécie de tirolesa rudimentar. Assim como para ir à escola todos os dias, a filha Daisy, de apenas 9 anos, também precisa sobrevoar os 370 metros de altura que separa seu casebre da aldeia. Presa num cabo de aço atravessa os 800 metros que duram longos 60 segundos. Em seguida continua à pé os 10 km restantes por um desfiladeiro da floresta.
Quando o filho de cinco anos do casal, Jimad, acompanha a irmã, o pai ata um saco de juta no gancho da roldana preso no cabo de aço. Com uma corda dobrada no meio e presa do mesmo modo, Daisy faz uma espécie de cadeira onde se senta. Depois, com uma das mãos, segura a ponta de uma forquilha de madeira que amortece a queda na chegada, sobre um pneu na outra margem.
Durante o percurso a roldana solta minúsculas faíscas e os metais arrastam-se num chiar assustador, enquanto a pequena Daisy vai empurrando o gancho de ferro para não deixar o mecanismo parar.
O leito do Rio Negro é famoso pelas enormes quedas d’água, pelas coloridas mariposas e por lendas inacreditáveis de curupiras — duendes que criam maldições contra garimpeiros e lenhadores para que estes se percam e enlouqueçam no meio da selva, onde também passou o pesquisador Charles Darwin.
Construir uma ponte neste lugar não é viável. E talvez não seja conveniente, porque o regresso da civilização poderia acabar com a espécie (ou a liberdade) dos Pínparos — os magníficos pássaros de asas amarelas que acompanham as crianças nos seus voos arrepiantes sobre o gigantesco vale de vegetação verde-escura e de intensas e úmidas neblinas.
Reportagem fotográfica de Christoph Otto em 2001.
Um comentário:
Estes dados são de 2000, segundo a revista Os Caminhos da Terra. Há alguma atualização sobre Dayse e sua família?
JANE - DE BELO HORIZONTE
jannoca@yahoo.com.br
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