5ª: DIA DA FILOSOFIA
DO CÁLICE CHEIO...
Todos os dias o Carteiro passa por aqui: sempre com alguma coisa interessante.
Ou não. Ou tudo. Menos cartas.
Claro, porque ninguém mais escreve cartas nesse fim da primeira década do século XXI.
Reconheço: sou uma dinossauro-fêmea.
Mas como ia dizendo, o Carteiro passou e deixou na janela quatro correspondências:
uma revistinha de terror impressa pela Fiat para vender uma caminhonete.
uma atualização de cadastro do Bradesco com um lápis incluído.
um cartão- propaganda de previdência da SulAmérica.
uma conta de seguro sei-la-do-que.
Fiquei olhando para aquele “malote”...
Carta? Bilhetinho? Telegrama? Nada.
Absolutamente nada.
Rasguei tudo, tudinho, e joguei no saco do lixo seco.
Talvez... deveria ter salvo o lápis? Não.
Um protesto deve manter a dignidade de não tocar no que não é seu.
Sou uma cidadã a espera de uma carta.
A carta que não virá.
Ainda perco meu tempo refletindo sobre a carta que deixou de ser escrita.
Mas, dias desses fui até o Correio levar uma carta.
O selo custou R$ 0,65.
Quando voltei, três minutos depois, a Uambla cobrou R$ 0,75 de estacionamento.
É por isso que ninguém escreve cartas.
Os selos estão pela hora da morte...
R$1,40. Carta simples.
Em papel de seda, sem perfume.