Photo by Haruo Ohara
Gosto muito de um livro pocket, baratinho, que comprei em uma gôndola de supermercado, na boca do caixa: “O mal-estar na cultura”, de Freud.
Entre outras escreve sobre felicidade e a neurose que vivemos por não suportarmos as frustrações que a sociedade impõe.
Ahã, quando vivemos tempos de consumismo on line e mais um tanto de futilidade virtual, percebo o quanto essa tal da felicidade, sensação iluminada, anda cada vez menos tangível.
Sim, acredito que fomos derrotados pela instantaneidade e nos assumimos como narcisos insatisfeitos, buscando saciar nossas necessidades ególatras. Dou por conta da tirania dos velho-novos tempos e da web.
Ó doce ironia, as pessoas não estão só querendo consumir felicidade, mas comprá-las. Com o Visa, de preferência.
Sim, a mídia está sempre nos lembrando dos encontros com os amigos na praia ao lado de uma gelada que desce redondo. Incentivando para ser linda e feliz usando roupa, calçado e o relógio “daquela” marca. Sem esquecer o carro do ano com toda família feliz e o cachorro. E o último penduricalho tecnológico? Adquire, pague e tenha sucesso na vida.
E se esse consumo todo ainda não basta para você ser muiiito feliz, sempre tem o consumo das drogas: sintéticas e naturais.
Tô fora!
Sim, todos nós sabemos, o mundo é trágico e vazio, mas não precisamos compactuar com ele. Daí acreditar que a felicidade se encontra em um freezer nos butecos, por favor!
E mais: felicidade não se calça no pé, não se acende na boca, não se aliança no dedo, não se gasta em motel.
Na verdade, felicidade não está à vista de todos e não há dinheiro que pague.
É tão subjetiva – sabemos. Mas então porque é que as pessoas continuam consumindo tanto e ainda continuam arrastando suas almas insatisfeitas por aí?
Talvez porque a felicidade não esteja na vitrine nem na tela da sua tevê plasma, por mais que os marqueteiros queiram provar o contrário.
Não estou atravessando nenhuma crise existencialista, nem questionando angustias ou buscando o sentido da vida, mas para papinho de “eu tenho, eu compro, eu quero” não contem comigo.
No meu ranking pessoal de felicidade ando supervalorizando a simplicidade.
* Minha crônica semanal nos jornais Opinião, Encantado e A Hora, Lajeado.
Um comentário:
Talvez porque resolvemos nao mais pensar, mas apenas seguir:um boi atraz do outro!
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