Ferias de uma semana. Entramos na freeway e quebramos por Viamão.
Vale o passeio. A estrada do inferno virou estrada do céu. Toda asfaltada. Nunca vi tanta figueiras juntas. E comecei a pensar que precisava trazer uma...
Deixamos Solidão para trás e continuamos. Em todos pátios, potreiros, campos, centenas de figueiras. Com tantas e tantas, quem se importaria se eu desencavasse uma pequena para transplantar na minha cidade onde a pau e corda só tem duas?
Entrada de Mostardas, distante 200 km de Porto Alegre: uma figueira de cada lado da RS 101... Com certeza deverias ter um horto onde poderia comprar a minha.
Casa de Cultura de Mostardas. Do início do século XIX. Quem nasce em Mostarda é mostardeiro? Não. É mostardense. Mostardas pertencia a São Jose do Norte. Foi colonizada
pelos açorianos desde 1738. Mas só em 1773 passaria a “freguesia”. Se
interessar, toda a história aqui:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mostardas
Quem explica tudinho é dona Luíza. Com orgulho mostrou imagens, documentos e a cópia da certidão do
nascimento do filho de
Giuseppe, de Nizza, Itália e de Ana
Maria de Jesus Ribeiro (
Anita), de Laguna:
Domenico Menotti Garibaldi, vindo ao mundo em 16 de
setembro de 1840, ali pertinho, embaixo de uma figueira, no rancho da família
Costa, em São Simão, distrito de Mostardas. Virou ponto turístico: Pedra da
Anita.
Dona Luíza abre o expositor e mostra o acervo histórico dos colonizadores na Sala Açoriana. Tudo muito simples, mas bem organizado. Na casa, a Biblioteca Municipal Mathias Velho.
Em frente à praça, a Igreja São Luis Rei da França, de 1773,
construída em estilo barroco. Entramos.
Lindinha, teto de madeira e um altar neo-clássico,
de 1817. Dizem que é uma das cincos igrejas construída neste estilo. Ignoramos o piso e nos concentramos na arquitetura.
O centrinho tombado pelo Patrimônio Histórico do Município
desde 1989, com casinhas de arquitetura açoriana do princípio do Século XIX, e
seus telhados com “eira e beira”.
A antiga Câmara municipal.
Como sempre, o estrago promovido pelos políticos. A Câmara de Vereadores nova, vulgarizando o conjunto histórico. Uma lástima.
Parte do comercio soube preservar e não polui sua própria história.
Dentro do mercado, junto as panelas, cordas, secos e molhados, uma barbearia. Por que não?
Hospital. Na esquina mais uma figueira. Descubro que não há horto, portanto não há figueiras para vender.
Pelo censo de 2010, um pouco mais de 15 mil
habitantes vivem em Mostardas. Não vi, mas uns 70 km antes de chegar, o Farol
da Solidão, de 1929, e com 21 metros de altura. Foto da internet.
Almoçamos no Ed Mundo's. Comidinha caseira bem gostosa. Diz seu Edmundo Luz que ta indicado na revista Quatro Rodas.
Seu Edmundo foi muito bacana e generoso: ganhei dele uma figueira. Plantadinha em um vaso. Agora tenho um butiazeiro de Santa Vitoria do Palmar e uma figueira de Mostardas!
Olha a Ceee aí... Também em uma casa açoriana preservada. Bacana, não é?
Quem vai a Mostardas traz um dos famosos "cobertores mostardeiros", de densa lã cardada e
colorida em tons de marrons. Explico que na minha cidade faz 45 graus e temos poucos dias de inverno e poucas arvores também.
Ainda se acha um calçamento antigo. Mas o asfalto também domina os cenários.
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe é um
atrativo a parte. Atualmente, administrado
pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
O cenário é lindíssimo. Com uma boa trilha sonora de fundo, emociona mesmo...
Dentro da área do parque, na costa, o Farol de Mostardas.
Não vi. Erramos o caminho e chegamos numa vila abandonada de pescadores, meio tétrica. Voltamos. Essas fotos são da internet para mostrar o que perdemos por não insistir.
De Mostardas fomos a Tavares, bem pertinho, apenas 30 km de distancia.
Também açoriana, dos idos 1730. Quem nasce em Tavares é tavarense... 5.300 e poucos
habitantes, se não diminuiu. Tocamos direto até a Lagoa dos Patos.
Prainha linda, de areias brancas, poucas casas. Vale abrir a cesta de piquenique e um vinho ao entardecer.
Outro farol que não vimos... Nas margens da Lagoa dos Patos, há 11 km de Tavares, o histórico Farol Capão da Marca, inaugurado em
1849 pelo próprio Imperador D. Pedro II. Foi o primeiro farol da
então Província do Rio Grande do Sul. Região histórica essa. Tem também o Farol Cristóvão Pereira, de 1868,
apenas 25 km de Mostardas. Ai, que frustração. Mas queríamos chegar em tempo para tomar a barca em São Jose do Norte e seguir até o Hermenegildo.
Pensava que aquela região era terra das figueiras, mas não. É a terra dos faróis. Sinto que preciso voltar um dia. Um belo texto do Santo Agostinho, no seu livro
“Confissões”, ensina que os homens viajam para se maravilharem com
a altura das montanhas, com as ondas
imensas do mar, os longos cursos dos rios, o vasto âmbito do oceano, o
movimento circular das estrelas... Mas passam por si mesmos sem se maravilhar.
Ainda bem que não perdi esse deslumbramento para com a natureza, nesse caso, aqui
tão pertinho da gente.