sexta-feira, 13 de novembro de 2009

CULTURA GOELA ABAIXO...

Depois de Miguel de Cervantes, o escritor Federico Garcia Lorca é a maior expressão literária da Espanha. Conhecido sobretudo por sua poesia e teatro - Blood Wedding (1933), Yerma (1934) e A Casa de Bernarda Alba (1936) - Lorca também produziu romances, contos, pinturas, desenhos e composições musicais em sua vida breve.

Durante a Guerra Civil Espanhola, o escritor sofreu intensa perseguição, não só por suas convicções políticas, mas pelo fato de ser homossexual. Em 1936, em plena ditadura franquista, Lorca é fuzilado e seus livros queimados publicamente. Seu nome proibido pelo governo de Franco. A morte de Garcia Lorca fez dele um mártir e um símbolo internacional da repressão política.

No mês passado, em outubro, o juiz espanhol Baltasar Garzón anunciou o início de uma investigação sobre as vítimas da Guerra Civil Espanhola e pediu a abertura de 19 valas comuns onde estão enterrados os corpos de milhares de vítimas dos dois períodos – entre eles o de García Lorca.

Uma das valas num cemitério entre Alacar e Granada, onde pensava-se existir mil fuzilados, “hoje, pensa-se que pode haver até 3 mil mortos no barranco de Viznar. A idéia de buscar entre os restos mortais de uns e não os de outros é algo simplesmente terrível.” - reflete, Laura Garcia Lorca, sobrinha-neta do poeta e presidente da Fundação Garcia Lorca, com receio de que a exumação de tantos corpos acabe por desrespeitar a memória dos fuzilados.

“Até agora não se conhecem os nomes. Quando se fala em dignidade, o primeiro a se descobrir é quem são aquelas pessoas, qual é a sua história.


Elas têm que ter um nome. O primeiro reconhecimento é o nome, e não os restos. Ao colocar uns acima dos outros, ao encontrar restos de pessoas não identificadas e voltar a enterrá-los em uma vala comum. Há uma certa perversão nisso. O segundo é que é muito difícil evitar o espetáculo midiático. Vamos fazer o possível para evitá-lo.” –afirma a presidente da Fundação.

O historiador Ian Gibson diz que Lorca estaria enterrado com mais três pessoas num ponto na estrada de Viznar, debaixo de uma oliveira.

Os operários que trabalham na exumação assinaram contrato de confidencialidade para proteger a privacidade da família.

Enquanto isso moradores das cidades de Alfacar e Granada são enfáticos: Federico não está aqui. Eles acreditam que a família do poeta teria pago o correspondente a um milhão de euros para exumar o cadáver e enterrá-lo com dignidade.

Fonte: Caderno Prosa & Verso – O Globo

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