sábado, 16 de maio de 2009

A CRÔNICA DO ROBERTO

photo ilustrativa de algum time do Ubirajá...

O CACETINHO

Estávamos em 1964, e como sempre, o BIRA participava todos os anos do Estadual de Basquete em Santa Maria, um evento que sempre aguardávamos com muita ansiedade.

Partimos de madrugada em três kombis com as equipes do Infantil, Juvenil e Adultos.
O infantil era formado pelos atletas: Fedoca, Pedro Scherer, João Caye, Marialvo, Favo Giovanella, Beto Leal, Paulo Reali e eu.

Os jogos neste ano, não aconteceriam mais no alçapão do Clube Caixeiral, mas no novo ginásio do CORINTIANS.


A maioria dos atletas vinha de famílias humildes, sem grana, mesada irrisória e, portanto, precisávamos aproveitar ao máximo durante toda a semana os lanches e almoços gratuitos que receberíamos, guardando a grana para as emergências.

De manhã ao chegarmos em Santa Maria a comissão de recepção deslocou nosso grupo até o Restaurante Universitário (RU) para o café matinal.

Ao passar pela roleta recebemos um pequeno pão tipo cacetinho. Em seguida, já sentados a mesa, passava o garçom e deixava duas bolinhas de manteiga, uma fatia de queijo, outra de mortadela e enchia a xícara com café e leite. Um minguado lanche, pois nem duas horas depois, as lombrigas já estavam mordendo as entranhas de nosso estômago.



Do café seguimos para o alojamento. Beleza! Era um edifício novo, zero bala, de nove andares, ainda não inaugurado e que seria a futura casa do estudante. Ficamos no 6º andar, com um pequeno detalhe: o elevador ainda não estava instalado...

Após um breve descanso, voltamos ao RU para o almoço, logo nos prepararíamos para o primeiro jogo que seria à noite. Serviram uma generosa porção de carreteiro, pão cacetinho à vontade e salada. Saímos estufados do restaurante e fomos conhecer o local ds jogos. Como o da categoria infantil era o primeiro, nosso jantar seria sempre após o jogo e assim ficou estabelecida a rotina da semana.


Mas, para nossa decepção, após o jogo, descobrimos que nossa janta não era nada mais nada menos do que a repetição do café da manhã... Bateu um desespero no moral da equipe e comentamos:
- Se foi nossa grana, só para completar as refeições.

Em direção ao alojamento entramos numa padaria e começamos a falar espanhol e mentimos ao curioso proprietário que fazíamos parte da seleção Argentina. Impressionado e hospitaleiro, o padeiro nos ofereceu bolachas. Começamos a degustar “todas” acompanhado de muito besteirol em portunhol.
Quando percebi que o proprietário já começava a desconfiar de nossa verdadeira origem era tarde... Na hora da saída, ao agradecer, o Fedoca em vez de dizer “muchas gracias”, disse um “mucho obrigadito”... Pagamos todas as bolachas.

Na manhã seguinte acordamos e fomos para o café, onde descobrimos a solução para nossas refeições. Genial! Notamos que ao passar na roleta com o crachá recebíamos o pão cacetinho, que era uma espécie de senha para o garçom completar a refeição. Não deu outra, reforçamos a tensão dos elásticos na altura dos tornozelos de nossos abrigos de um tecido sarja, chamado anarruga, e esperamos o meio dia chegar.

Na mosca, o pão cacetinho foi novamente liberado e saímos do almoço com as pernas dos abrigos inchadas de tanto pão. Parte seria usada na janta e o resto no café da manhã.

Assim vencemos o resto da semana, sempre com o mesmo ritual: crachá, roleta, pão, pão no prato, garçom com os complementos, derruba tudo, levanta, faz um “H” no ambiente cheio de atletas, senta em outra mesa, coloca o cacetinho no prato e recebe novamente os complementos.

Foi demais... Alguns até engordaram.

4 comentários:

serjao disse...

Meu querido amigo, MUITO OBRIGADO por mais essa. Com os olhos aguados, quase me mijo de tanto rir. Acho que, quer queiras ou nao, seras o "historiador" da nossa geracao. Continua meu brother, continua, porque eu sei que tem muitas mais. Um abracao. Thanks to you too, Laura.

JORGE LOEFFLER .'. disse...

Belas memórias.
Lady Laura eu ainda não conheço esse "guri" pessoalmente, mas o admiro por sua franqueza.Muitos certamente não colocariam tais fatos no papel, pois lhes faltaria coragem para tal.
Realmente se formos daruma examina em nosso HD, encontraremos muitos fatos divertidos. Parabéns ao autor e à editora. Felicidade nossa.

Roberto Ruschel disse...

Obrigado pelos comentários, mas para ilustrar mais um pouco as nossas dificuldades acrescento que: uma das formas de engordar a mesada era vender jornais velhos. O Seu Benno Scherer já havia avisado todos os açougues e butecos da praia que se o Fedoca aparecesse com Jornal O DIA, era para avisa-lo. Então o golpe era o seguinte: êle pegava o Jornal e eu vendia, ganhando parte da renda.

Anônimo disse...

Ainda não li... mas deve ser bom... rsrsrs... pena que o Bira ficou na mão de uma panelinha que " não quer largar o osso"