NOS PASSOS DA DÉCADA *

Os primeiros dias de um ano-década.

Será um daqueles anos simbólicos ou metafóricos?

Vale uma pesquisa rápida nos anos-década para descobrir que em 1930 organizaram a 1ª Copa do Mundo e, mesmo ano, da posse de Getulio por mando da revolução.

Então, mexericando no futuro: será 2010 um ano notável ou um ano para ser esquecido?
Um ano que revolucionará a cena musical como foi a Bossa Nova, a Tropicália? Ou estará mais para axé music? O que ouviremos ainda?

O calendário em branco desafia as bordas criativas e lembro de minha avó lembrando a neta de anotar os doze primeiros dias do ano - se sol ou chuva.

Cada um daqueles dias corresponderia a um mês do ano. Chovendo no dia 1º, a probabilidade de um Janeiro aguado era grande. Tempo bom no sétimo dia significaria um Julho de estiagem, apesar de mês da enchente. Bom, nem sempre as crenças de minha avó coincidiam. Mas não tinha importância porque eu lembrava de conferir o clima só até “Maio” - depois as paixões de férias escolares preenchiam manhãs e tardes ensolaradas.


Os primeiros dias de um ano-década!

Um calendário em branco lembra a discussão simbólica da Esfinge de Tebas: decifra-me ou devoro-te. Infelizmente, os hieróglifos não revelaram o fim dos Beatles e a morte de Jimi Hendrix, sequer o tri-campeonato do Brasil na Copa. De importante mesmo em 1970 foi o inverno rigoroso que exigiu cuecão e dois pares de meia: o frio era mais intenso do que agora e a temperatura dos horrores marcaria a década para uma menina que marchava no dia Sete de Setembro carregando um cartaz onde uma professorinha entusiasmada escrevera “Brasil: ame-o ou deixe-o”. A cara da Esfinge.

Anos redondos que fecham ou abrem ciclos históricos: na década de 40 o apogeu e o declínio de Hitler. Década de 50? Na metade do século a coisa mais importante que aconteceu foi um tio engravidar minha tia e depois fugir para se esconder num matagal nas redondezas da cidade. Passada uma semana de intensa procura, o delegado o arrastou para o cartório onde eles se casaram e a honra da família se viu remendada. Com o início da TV Tupi, logo descobririam que o casamento nem era tão ruim assim.

Agora iniciamos o 2010.
Uma incógnita de arrepiar alertando que o mundo caminha para o caos ambiental e não há espaço para sonhos idealistas como aquele que em 1960 movimentou a roda da história com a inauguração de Brasília. De lá para cá, a corrupção oficial passou a ter endereço fixo e reconhecido.

2010, 2010, 2010...
O que acontecerá de inédito para valer uma biografia ou lenda?
Mandela foi solto em 1990 e em seguida o Brasil consagraria Fernando Collor de Mello, lembram? Aquele que saqueou nossa magra poupança nos bancos impedindo que muita gente comprasse o Super Nintendo para os filhos no Natal. Pois é.

Vamos esquecer 1980? Pula a Xuxa, em seguida Os Menudos, os collants e as ombreiras. Prefiro lembrar que foi o ano em que morreu Vinicius de Moraes sacramentando de vez o amor: que durasse enquanto imortal e infinito.

Então chegamos realmente em 2010: mais descrentes ou ainda esperançosos?
Mais experientes.
Contudo, dia 1º foi um dia de sol escaldante e contrariando as previsões de minha avó, Janeiro se desmancha em chuvas furiosas. Deve ser o troco da Natureza...

* Minha crônica nos jornais A Hora, de Lajeado e Opinião, de Encantado.