sábado, 18 de julho de 2009

A CRÔNICA DO ROBERTO

O Coroinha

Era o amanhecer de um belo domingo.
Deslocava-me rapidamente em direção a Igreja Matriz. Estava escalado como um dos coroinhas para a missa das 6:30 e precisava chegar cedo para preparar o altar e as oferendas.
Mas, também havia um outro motivo.

Chegar antes que o outro coroinha, Jorge Thomas, pois pretendia as escondidas degustar um pouco do sangue do senhor.

Havia meses que ao colocar o vinho na cremeira, o olfato me deixava extasiado ao inalar o seu aroma. Quando entrei na Igreja notei que alguns fiéis já estavam a rezar.
Passei pela sacristia, vesti a batina e ainda amarrando o cordão fui para traz do altar, onde ficava a adega.

Após encher as cremeiras com água e vinho, sem litúrgia alguma, tomei alguns goles daquela preciosidade. Hum, uma delícia.

Parecia um suco de uva e que imediatamente aliviou a fome de meu jejum.

Não agüente! Era muito gostoso. Tomei mais alguns goles.
Fiquei eufórico! Um calor diferente começou a aquecer meu corpo.
Sentado num banquinho, atrás do altar passei alguns minutos curtindo o efeito.

Voltando para a Sacristia, notei uma certa dificuldade minha em fazer a genuflexão e inclinação passando pelo meio do altar.
Na Sacristia, peguei o bastão, coloquei fogo no pavio e fui acender as velas do altar.
Caraca!!! Quantas velas! Não era assim... Tinha velas e ornamentação demais.

Inocentemente não percebia que o jejum, curado com vinho, estava fazendo efeito. E que efeito, pois apontei para uma das velas e foi fatal: algumas flores secas imediatamente pegaram fogo.
Correria geral.

Para minha sorte o Padre Érico já havia chegado e junto com alguns fiéis apagaram o pequeno incêndio.

Apavorado, encolhido na porta da Sacristia, aguardava o que fazer.
Padre Érico se aproximou, olhou para minha cara de bebum:

- Meu filho, faça “hahaha” – pediu ele, para sentir meu bafo.

Ordem cumprida, o p. Érico passou a mão na minha cabeça e disse:

- Estás dispensado do serviço, vá para casa e descanse.

Dormi tanto, que se não me acordassem para o almoço perdia o melhor da galinhada.

Roberto Ruschel

6 comentários:

Anônimo disse...

Como coroinha do padre Érico em 1975 eu ia tomar o vinho direto do servidor na igreja e escondido claro , de tarde..
Entrava na igreja pela portinha que fazia barulho (nhééééc) , ia me esgueirando até o altar e tomava uns golões do vinho que ficava numa bandeijinha junto com a água á direita do altar.
O vinho era docinho e rosê..
Um dia uma menina que tbm ajudava na missa me pegou na tampa.
Eu não lembro como terminou , mas ela me perguntou braba..
-Porque tu não toma a água tbm seu safado ?..
-E eu disse..Boa idéia , mas não convém misturar..hehehe...
Pior que é verdade....!
Hóstias eu comia de monte , mas os retalhos apenas..As freiras (que eram as q faziam ) levavam um sacão de retalhos de hóstias prá gente...
Praticamente saímos padres lá , pelo menos bebemos vinho (depois descobri que outros iam tomar em outros horários) e retalhos de hóstias de monte.
Só que tocar o sino na missa das 6 da tarde tinha de ser amigo do "Hilga" , pois ele era o chefe das "badalações" da matriz, mas liberava se não tirasse com a cara dele...
Bons tempos...

serjao disse...

Grande cronica Roberto. E mais para acrescentar, lembro que durante meus tempos de coroinha na Matriz,aos domingos, "hora nobre", ou outras funcoes mais solenes, haviam 6 ou 8 coroinhas e a questao era saber quem seriam os que iriam na frente. Geralmente, esses "apareciam" mais durante a missa e se a questao terminava empatada, para quebrar o empate, aquele que soubesse recitar o "Confiteor"??..., em Latim, ia pra frente. A nao ser que estivesse bebum!Se alguem ai fora se lembrar de algo a esse respeito , confira, pois meus "neuronios" ja nao sao os mesmos. Grande trabalho Roberto, trouxe grandes lembrancas. Atingiu o alvo.Thanks Laura.

Anônimo disse...

Não foi Roberto quem escreveu o primeiro post sobre a "coroagem" na década de 70..Mas valeu !

Anônimo disse...

A crônica postada por Laura foi sim de Roberto , aliás muito boa..
O post primeiro sobre a furtiva no vinho do padre foi de outro postador aqui..
Abção

Roberto Ruschel disse...

Não coloquei no texto o ano em que ocorreu o fato, pois não foi possivel precisar, mas lembro que estava no primário do Colégio São José, portanto deve ter sido em 1958, 59 ou 1960.

Susi disse...

Que coisa boa que a função de coroinha te trouxe...apreciador de vinho...ohh coisa gostosa.
E com a crônica estimulou mais ex coroinhas a confessar as suas degustações furtivas na sacristia...hehehe.
Ótimo texto.bjo Susi