terça-feira, 31 de janeiro de 2012

CRÔNICA DE PRAIA


Escrevo do alto do morro do Capão: caneta e papel.
Descendo 40  degraus e seguindo a estradinha  em frente você chega na praia da Ferrugem, em Garopaba, Santa Catarina. Entupida  de argentinos.
A minha frente,  a lagoa que dá nome a praia. 
Atrás, um morro emoldurando aquela  serena e linda bacia d’água. Entupida de camarões. Avisto os  diversos tons de verde que formam um retalho bonito: cor de mata virgem, cor de desmatado, cor de eucalipto, cor de erosão e alguns telhadinhos.
Ao redor da minha moradia  também existe muito verde onde os aracuãs, as cigarras, as garças e um helicóptero disputam o azul do céu. 
Chega de longe  os ecos da civilização: martelos e serrotes, escapamento de moto e motor de caminhão velho subindo a serra. E mais o farfalhar delicioso do vento na copa das árvores e nas taquareiras.
O que lhe parece? 
Paraíso ou purgatório? 
Paz ou tédio?
CONSUMO CONSCIENTE
Leio no jornal da peixaria que em decurso um novo movimento mundial: o “Devagar”, que propõe o desaceleramento da vida estressada e do consumo. 
Não sabia, mas já estou dentro: água de poço e radio elétrico. 
E não é que gosto?
Sei  que no Vale do Taquari o calor é absurdo. 
Aqui, a brisa move uma alegria tranqüila.
Menos - é a proposta? 
Não precisamos mais do que três pares de calçados: um tênis, um chinelo de dedo e uma rasteirinha, gurias! Short, camisetas, um biquíni, uma canga, um jeans, um vestidinho e um casaquinho e estou sendo sincera.
A casa é grande e sobra  um “cômodo” e tudo é perto: sala-cozinha, um banheiro, um quarto e a varanda cartão-postal.
Não sei quanto tempo me garanto, mas deveras experiência interessante. 
E para quem já passou três dias tomando banho de cuia numa ilha, essa tiro de letra. 
Gosto de situações que divisam o limite entre o menos e o mais e dê-lhe criatividade.
OPÇÃO
A gente sabe de vivencias na natureza e opções de vida alternativa  por intermédio das reportagens na televisão (aliás, aqui só televizinho!), mas quando somos nós que propomos, o contexto é outro: experimental. 
A casa que foi emprestada  estava abandonada há três anos. 
Lavei, queimei, pintei e troquei três brasilites. 
Água de poço e luz de  “gato”.
Descubro que sem água a gente se vira: compra no super para beber, banho de poço, de mar, de lagoa. Mas sem energia elétrica, a coisa complica.
A única coisa que desanima é o vaso no banheiro: por nada entope. 
Voltar ao tempo da capunga, nem pensar!  
Tenham dó: o  movimento é “desacelerar”  e  não,  “regredir”!

* Minha crônica do último sábado, no jornal Opinião, de  Encantado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Porque tanto sofrimento. Vai pra Jurerê Internacional viver a vida. Este papo de sem água, sem luz é depressão profunda. Cai na real, vai curtir a vida... Hotel 5 estrelas, gastronomia de luxo, um bom vinho, caminhadas ecológicas. Isto é viver! Para isto serve o dinheiro, para gastar a favor de nosso bem estar. Querer ser eremita ortodoxo em 2012 realmente é regredir...