Escrevo do alto do morro do Capão: caneta e papel.
Descendo 40 degraus e seguindo a estradinha em frente você chega na praia da Ferrugem, em Garopaba, Santa Catarina. Entupida de argentinos.
A minha frente, a lagoa que dá nome a praia.
Atrás, um morro emoldurando aquela serena e linda bacia d’água. Entupida de camarões. Avisto os diversos tons de verde que formam um retalho bonito: cor de mata virgem, cor de desmatado, cor de eucalipto, cor de erosão e alguns telhadinhos.
Ao redor da minha moradia também existe muito verde onde os aracuãs, as cigarras, as garças e um helicóptero disputam o azul do céu.
Chega de longe os ecos da civilização: martelos e serrotes, escapamento de moto e motor de caminhão velho subindo a serra. E mais o farfalhar delicioso do vento na copa das árvores e nas taquareiras.
O que lhe parece?
Paraíso ou purgatório?
Paz ou tédio?
CONSUMO CONSCIENTE
Leio no jornal da peixaria que em decurso um novo movimento mundial: o “Devagar”, que propõe o desaceleramento da vida estressada e do consumo.
Não sabia, mas já estou dentro: água de poço e radio elétrico.
E não é que gosto?
Sei que no Vale do Taquari o calor é absurdo.
Aqui, a brisa move uma alegria tranqüila.
Menos - é a proposta?
Não precisamos mais do que três pares de calçados: um tênis, um chinelo de dedo e uma rasteirinha, gurias! Short, camisetas, um biquíni, uma canga, um jeans, um vestidinho e um casaquinho e estou sendo sincera.
A casa é grande e sobra um “cômodo” e tudo é perto: sala-cozinha, um banheiro, um quarto e a varanda cartão-postal.
Não sei quanto tempo me garanto, mas deveras experiência interessante.
E para quem já passou três dias tomando banho de cuia numa ilha, essa tiro de letra.
Gosto de situações que divisam o limite entre o menos e o mais e dê-lhe criatividade.
OPÇÃO
A gente sabe de vivencias na natureza e opções de vida alternativa por intermédio das reportagens na televisão (aliás, aqui só televizinho!), mas quando somos nós que propomos, o contexto é outro: experimental.
A casa que foi emprestada estava abandonada há três anos.
Lavei, queimei, pintei e troquei três brasilites.
Água de poço e luz de “gato”.
Descubro que sem água a gente se vira: compra no super para beber, banho de poço, de mar, de lagoa. Mas sem energia elétrica, a coisa complica.
A única coisa que desanima é o vaso no banheiro: por nada entope.
Voltar ao tempo da capunga, nem pensar!
Tenham dó: o movimento é “desacelerar” e não, “regredir”!
* Minha crônica do último sábado, no jornal Opinião, de Encantado.
Um comentário:
Porque tanto sofrimento. Vai pra Jurerê Internacional viver a vida. Este papo de sem água, sem luz é depressão profunda. Cai na real, vai curtir a vida... Hotel 5 estrelas, gastronomia de luxo, um bom vinho, caminhadas ecológicas. Isto é viver! Para isto serve o dinheiro, para gastar a favor de nosso bem estar. Querer ser eremita ortodoxo em 2012 realmente é regredir...
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