É tempo de Natal... Não resisto. Desculpe.
Zona rural de Medellín, na Colômbia.
Território de intensa violência e conflitos onde treze
gangues disputam o poder. A maioria ligada ao narcotráfico. Mas também
aglutinando ex-guerrilheiros e ex-paramilitares de San Antonio de Prado e
arredores.
Uma zona dividida entre os bairros Limonar 1 e Limonar 2.
As gangues – combos
ou parches - não permitem que os moradores circulem
livremente entre um bairro e outro. Uma fronteira invisível as divide. Uma área
tão funesta que escondeu por muitos anos o traficante Pablo Escobar. E onde depois das dez da noite, as pessoas
não se arriscam sair de casa por medo de bala perdida, como dizem os
moradores. Sim, lembra as favelas
brasileiras.
Nesse meio violento, um prédio é considerado o “ferrolho”.
Lembra? Aquele totem que dá imunidade, que salva a gente quando se brinca de
pega-pega.
Um prédio que simboliza uma zona neutra, onde uma vez lá
dentro todos podem conversar entre si com segurança, mesmo pertencendo a
gangues diferentes e inimigas.
Pensou em igreja? Em ginásio de esportes? Em uma escola?
Não. É a Biblioteca Pública El Limonar localizada bem na
divisa entre os dois bairros, com detectores
de metal nas portas e vigias uniformizados.
É nesse local que os moradores de ambos os lados buscam
livros, ouvem as contações de história, sentam na mesma mesa para jogar xadrez,
juntos participam das atividades de leitura, acessam os computadores lado a
lado, ou simplesmente conversam como se bons vizinhos. Saindo do prédio, cada um toma
o rumo beligerante de sua vida.
Para que essa boa vizinhança com a Biblioteca fosse
possível, a prefeitura abriu mais uma porta no prédio, em 2011. Desde então há duas portas que se abrem para
cada um dos bairros 1 e 2.
Antes, os líderes das gangues acusavam os funcionários da El
Limonar de “privilegiar” moradores de uma área dominada por grupos rivais,
facilitando o acesso ao espaço. Agora a situação foi resolvida e todos podem
curtir os eventos culturais e literários que acontecem na zona neutra da
biblioteca.
Luz Estela Peña, funcionária da prefeitura de Medellín,
conta que seis bibliotecas municipais estão localizadas em zonas de conflito da
cidade colombiana, sendo que três delas em áreas rurais.
Quando li sobre essa trégua literária fiquei emocionada. Uma
zona de pacificação através dos livros.
Vem de encontro ao que sempre pensei: centros culturais nos
bairros mais violentos das nossas cidades para comprovar que a arte e a cultura
podem contribuir para a diminuição dos conflitos existentes nestas áreas.
A propósito: um bom livro de Natal para você! E uma boa
leitura de mundo com fé e solidariedade.
* Minha crônica nos jornais A Hora, Lajeado, e Opinião, Encantado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário