quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

PEDIDO DE DESCULPAS AOS MEUS IRMÃOS



O escritor Fabrício Carpinejar escreveu ontem na Zero Hora uma das suas crônicas mais bonitas. E das mais humildes e humanas. Repercutiu nas mídias sociais e fez muita gente repensar suas relações familiares.

“Eu convivia com meus primos até o Natal de 80.

O pai brigou com seus irmãos e deixamos de visitar a casa dos avós e de participar das festas da virada com toda a família.

Foi um desaparecimento sem explicação. Sempre brincava com meus oito primos, paramos de nos ver de repente por imposição e diferenças dos adultos.

Nem desconfio qual o motivo do desentendimento entre os tios e as tias. Sei que sobrou para as crianças, que cresceram separadas e longe do casario amarelo da Corte Real.

Herdamos o desterro. Não tenho nem ideia de como meus cúmplices de sangue e peraltice se encontram e como enfrentaram a maturidade.

Quanta diversão desperdiçada! Quanta algazarra sufocada no pulmão! Quantas vidraças intactas porque não jogamos mais bola na rua!

Perdi meus melhores momentos de férias, que eram roubar pingente do lustre da sala, deslizar de meias, espiar revistas com mulheres seminuas, beber cerveja escondido.

Sumimos da vista e da vizinhança, apartados do contato.


Não quero repetir a tragédia. Mas estou fazendo igual ao meu pai.

Briguei com dois irmãos, Carla e Rodrigo.”



2 comentários:

Pensando disse...

Será que a família reuniu-se para festejar o Prêmio Açorianos de poesia, vencido por Maria Carpi, mãe do cronista? Aliás, ele adotou o sobrenome Carpinejar para homenagear a mãe, e o pai, Carlos Nejar, imortal da ABL. É genético o dom literário.

Anônimo disse...

Que lindo!
Imagino a mãe dele lendo. E chorando.
Lembro de tantas histórias parecidas.
E sim, quem não facilita, automaticamente dificulta.
Que lindo.
Tomara que ele poste uma foto do Natal - finalmente - em família.
Juro que queria ver o Carpinejar brigar, devem brotar metáforas!