CRÔNICA DE SABADO

RECAPITULANDO...

Não vamos entrar em pane, amiga. Muito cuidado numa hora dessas.

Sim, todos nós sabemos, exatos seis dias antes da ceia, antes do amigo secreto e, talvez, você ainda nem montou o pinheirinho na sala. Não montou, sua bárbara insensível?!!

Está bem, relaxe, respire fundo, ainda é tempo de flamboyant que se preze.

Você tem quantos afilhados mesmo? Nada de gemer...

Lista, lista, lista.

Procure na gaveta das calcinhas, criatura! Aonde mais você poderia esconder uma listinha de candidatos a presentes que é a mesma todos os anos? Calma, mas essa lista deve estar dobradinha feito uma certidão em algum lugar do seu quarto. Quem sabe na caixa de sapato dos documentos? Por que não? Procure, anda!

Mãe, dois filhos, padrasto, ex-sogra, cinco afilhados em idade natalina apta, a táta, a nora. A mãe da nora. As duas amigas do peito. Respire fundo, refaça a lista. O jardineiro, o piscineiro, o jornaleiro. Os mimos para as colegas de yoga, da cerâmica, do tênis, do carteado das quintas. O amigo secreto do seu escritório, da academia, do curso de técnica vocal. Respire novamente, desespero não ajuda no momento. Esqueça o seu décimo - terceiro. Definitivamente, esqueça. É para isso que você ganha o décimo - terceiro. Para comprar presentes para os outros. Como assim você já torrou tudinho em outubro? Pirou, sua desmemoriada!

Não vamos entrar em pane, sossegue os demônios: reservou o peru no mercadinho da Marlene? E os fios de ovos? Não sobrou cassata do ano passado? Congelados nunca se perde, dizia minha falecida madrinha. Sobrou?

Lista, amiga, lista! Prioridades e um isordil embaixo da língua.

Uma camiseta, duas, três, tantas quanto os afilhados. O cd do Roberto. Compre quatro, logo de uma vez, vai que surge alguém de última hora. Livros? Não me olhe com essa cara. Tem quem goste. Um pirex refratário, um abridor de champanhe, um batom tititi.

Sim, querida, não chore, eu sei, é desanimador, você só tem seis dias e ainda se encontra presa na teia de Penélope, tapando o sol com a peneira e tomando o céu com a mão.

Suspire mesmo, além disso, ficamos nos cobrando a tal da espiritualidade, não é?

Tudo parece mesmo sem sentido, nem se sabe mais quem nasceu por esta época, se foi na manjedoura do Sus ou parto de cócoras, na moda de novo.

Relaxe, amiga. Agora você entende a importância de umas férias em pleno novembro?

Pois é. Aproveite os dias amenos deste dezembro caridoso e, de lista na mão, vá cumprir suas obrigações sem bufar. Todo o ano é a mesma coisa de última hora.

Antes do dia 31, ninguém segura o atarraxo natalino. Coragem.

Aí vem as trocas... Mas isso, graças a Zeus, não é com você.