Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos.
Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podres fazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios e populações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos por meios cruéis.
(...) Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico.
Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas – mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente.
O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas.
Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica.
Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.”
(...) O Jornal Nacional, nesta quinta, 25 de novembro, definiu o caos no Rio de Janeiro, salpicado de cenas de guerra e morte, pânico e desespero, como um dia histórico de vitória: o dia em que as polícias ocuparam a Vila Cruzeiro.
Ou eu sofri um súbito apagão mental e me tornei um idiota contumaz e incorrigível ou os editores do JN sentiram-se autorizados a tratar milhões de telespectadores como contumazes e incorrigíveis idiotas.
Ou se começa a falar sério e levar a sério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos mais digno furtar-se a fazer coro à farsa.”
(*) Luiz Eduardo Soares é Mestre em Antropologia, pós-doutorado em Filosofia Política. Ex- secretário nacional de segurança pública (2003) e coordenador de segurança, justiça e cidadania do Estado do RJ (1999/2000). Professor da UERJ e coordenador do curso à distância de gestão e políticas em segurança pública, na Universidade Estácio de Sá.
* Na íntegra: http://luizeduardosoares.blogspot.com/2010/11/crise-no-rio-e-o-pastiche-midiatico.html
A Polícia Militar criou uma ouvidoria para registrar as queixas de moradores que acusam policiais das Polícias Civil e Militar de saquearem as casas durante as operações no Complexo do Alemão, em Ramos; e na Vila Cruzeiro, na Penha.
A questão foi discutida entre o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame; o comandante-geral da PM, Mário Sérgio Duarte; e o chefe de Polícia Civil, Allan Turnowsky, antes mesmo da operação.
O coronel Mário Sérgio, inclusive, anunciou que irá expulsar os PMs que tenham participado dos saques, caso seja comprovado.
A medida foi tomada depois de Mario Sérgio ouvir inúmeros relatos de moradores de furtos de objetos pessoais em todo o Complexo.
Na Rua Joaquim de Queiroz, por exemplo, ele ouviu a reclamação de Carlos Lopes da Silva, de 53 anos, de que sumiram de sua casa após uma revista da polícia, uma TV de 42 polegadas, R$ 200 e todos os seus documentos.
3 comentários:
será que vai ter hospital para tanta crise de abstinência?
eu não gostei: quando é para louros (copa, olimpídas) o Rio é por si; quando é problema o Rio é Brasil...
Eu não gosto quando colocam todos os gatos no mesmo balaio. Existem bons e maus professores. Existem bons e maus reporteres e assim existem bons e maus policiais. Mas nunca todos!
Alguém com R$ 31.000,00 em casa, na situação noticiada passa por suspeito, por outro lado esse dinheiro deveria ser relacionado com as apreensões. Há falhas, porém nem todos os policiais são bandidos.
Jorge, tu que tem experiência na área, concorda comigo?
MUITO bom este post, este assunto é só que apareceu no noticiario, mas sempre aquela mesmice prepondera, faltam analises criticas como essa. o engraçado é que a camabada toda que viu tropa de elite dois não se toca que ali está acontecendo exatamente a mesma coisa! o pior é ver jornalistas miupes aplaudindo e triste é ver o diretor do tropa de elite ponderando e mudando o discurso pra falar com a globo. wikileaks no governo brasileiro já!
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