2011. 2011! 2011? 2011 e uma incógnita. Um breu. Um abismo.
É só pensar que um arrepio passa pelos costados, atravessa a nuca e embaraça ainda mais os meus cabelos. Você também se sente assim?
Então corra para encontrar uma boa lanterna que ilumine as fatias rotineiras do seu próximo ano.
Luz para 2011, gente! Dizem que um bom clarão sempre afasta os mais aterradores fantasmas. Lembro de pequena quando meu pai acendia a luz e eu espiava em baixo da cama: alívio, o homem do saco já não estava mais lá com suas unhas sujas e longas, seus trapos imundos e fedidos, seu único dente de ogro segurando a boca roxa. Sim, aquele homem do saco que roubava as crianças que faziam xixi na cama, nos levando para outras cidades, afastando dos irmãos e dos pais. Para sempre. Uma pedagogia oblíqua dos anos 60. Felizmente, parece que clarearam os conceitos da Educação.
Já estou bem grandinha para brincar de lanterna, reconheço, mas serve muito bem para iluminar o meu frágil norte em 2011. Não quero repetir os fracassos íntimos desse ano símbolo que se encerra: um mal-entendido com o filho, uma opinião errônea sobre o demagogo-público, um silêncio medieval quando o tempo se conjuga rapidamente através de um simples ipad.
A gente, que gosta de sangrar palavras, ressuscitar metáforas e se embrulhar na autocrítica para não escrever castidades, agora se vê pinçando 2010: credo, o que sobrou do ano?
Uma copa de futebol inexpressiva, a contagem do Censo e um Tiririca na Câmara de Deputados. E foi isso.
Sinto avinagrar a leitura dessa última crônica de 2010: as pessoas continuam sofrendo na fila do SUS. Faltou remédio, faltou médico, faltou saúde para os brasileiros enquanto nossos impostos servem de base para o aumento dos políticos safados que orbitam por aí. Em 2010, alguns corruptos foram denunciados, outros aumentaram seu próprio salário. A insegurança dentro de casa ampliou e o povo pensa que só a construção de presídios vai resolver a situação, todavia alunos seguem espancando professores na hora do recreio ou dentro de sala de aula.
Não existe promotoria competente para proteger nosso patrimônio verde. Os danos ambientais que minha cidade sofreu vieram assinados e licenciados por aqueles que legalmente a deveriam proteger: Ibama, Fepam, Condimma, Partido Verde, Secretaria do Meio Ambiente, siglas para anedotas ou pecinha de teatro. Não falo de Amazônia, falo do nosso quintal. E quem se importa, não é mesmo?
Até tô com um palpite isento de pessimismo, pelo contrário, muito promissor: a presidente é daqui do Sul, o governador é companheiro de sigla da presidente e o vento sul rende boas ondas e é muito melhor do que o vento norte, sabe-se muitas vezes enlouquecedor de acabar na ponta de uma corda.
Quando chegou na porta de Hades, o grande poeta alemão, Goethe, suspirou: “Mehr Licht!”. Sim, “mais luz” para 2011 porque esse ano que termina a meia-noite dessa sexta-feira, quero crer, já é passado. Já, treva.
A não ser por um detalhe: wikileaks. Que anseio um dia se territorialize e exponha as feridas e nódoas da nossa província alienada.
3 comentários:
Profunda e simultaneament leve. Que beleza.
Feliz 2011 à blogueira e seus leitores.
Que seja um ano com muita saúde, pois esta não tem preço.
e o pessimismo continua jorando por aqui.
E o português chorando !
Postar um comentário