Uma cultura viva se faz de lembranças e memória.
Agora mesmo assisti a um documentário baseado em testemunhos dos últimos sobreviventes homossexuais nos campos de concentração nazista: “Parágrafo 175”.
Em 28 de junho de 1935 o Ministério da Justiça de Hitler revê a legislação do Código Penal Alemão de 1871 e assina o Parágrafo 175, dando base legal para que mais de 100 mil homens alemães, de famílias cristãs, fossem presos durante a 2ª guerra e na própria Alemanha.
Destes, 10 a 15 mil foram enviados para campos de concentração.
No ano 2000, quando lançaram o documentário, ainda viviam dez sobreviventes. Entre eles apenas cinco aceitaram revelar essa história macabra: os nazistas acreditavam que o homossexualismo seria uma doença.
Querendo saber mais detalhes sobre os personagens reais, procure no Wikipédia:
“Um ativista da resistência meio-judeu gay que passou a guerra a ajudar refugiados em Berlim; Annette Eick, uma lésbica judia que escapou para Inglaterra com a ajuda da mulher que amava; o fotógrafo alemão cristão que foi preso por homossexualidade e que depois, ao ser libertado, se alistou no Exército porque "queria estar entre homens"; Pierre Seel, o adolescente asalciano francês que assistiu à morte do seu amante, comido vivo por cães.”
Os comandantes alemães de Hitler não só dizimaram os “diferentes”, como também ultrajaram de todas as formas possíveis. E assim como os judeus usaram um emblema amarelo na roupa para identificá-los, os gays passaram a usar, obrigatoriamente, um triângulo rosa. E para as mulheres que se mostravam "anti-sociais" e para as prostitutas e lésbicas foi criado um triângulo preto invertido. Essa imagem também foi usada para identificar os deficientes, os alcoólicos, os desocupados e os grevistas. Mais tarde, anarquistas radicais adotariam o triângulo negro como um símbolo contra a repressão e de consciência antimilitarista e anti-autoritária.
Ainda em 2000, o filme “Parágrafo 175” receberia o prêmio Teddy Award como melhor documentário do ano. Aposto que você nunca tinha sequer ouvido falar nele. Eu também não. Somente em 1994, com a reunificação da Alemanha, o governo revê sua crueldade e acaba revogando a lei tão singular e ignorante. O mais triste de tudo é que ao findar a guerra, os judeus acabaram libertados mas os homossexuais continuaram presos. Os horrores vivenciados entre os anos 1933-1945 foi considerado como um dos últimos segredos do Terceiro Reich.
Conhecendo um pouco o Vale do Taquari, penso que mesmo hoje, em pleno século XXI, se assumir homossexual é travar uma batalha diária contra o preconceito e a intolerância.
E pior, contra o ódio.
Um ódio que quando não mata, humilha.
Muitos ainda continuam encarcerados dentro do próprio corpo, condenando a um eterno silêncio e desequilíbrio também o próprio espírito.
* Minha crônica não publicada no A Hora.
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