quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A PRISÃO DA ALMA


Uma cultura viva se faz de lembranças e memória.
Agora mesmo assisti a um documentário baseado em testemunhos dos últimos sobreviventes homossexuais nos campos de concentração nazista: “Parágrafo 175”.

Em 28 de junho de 1935  o Ministério da Justiça de Hitler  revê a legislação do Código Penal Alemão de 1871 e assina o Parágrafo 175, dando base legal para que mais de 100 mil homens alemães, de famílias cristãs,  fossem presos durante a 2ª guerra e na própria Alemanha. 
Destes, 10 a 15 mil foram enviados para campos de concentração.

No ano 2000, quando lançaram o documentário, ainda viviam dez sobreviventes. Entre eles apenas cinco aceitaram revelar essa história macabra: os nazistas  acreditavam que o homossexualismo seria uma doença.

Querendo saber mais detalhes sobre os personagens reais, procure no Wikipédia:
“Um ativista da resistência meio-judeu gay que passou a guerra a ajudar refugiados em Berlim; Annette Eick, uma  lésbica judia que escapou para Inglaterra com a ajuda da mulher que amava; o fotógrafo alemão cristão que foi preso por homossexualidade e que depois, ao ser libertado, se alistou no Exército porque "queria estar entre homens"; Pierre Seel, o adolescente asalciano francês que assistiu à morte do seu amante, comido vivo por cães.”
 Os nazistas realmente acreditavam que os gays eram fracos e não estariam aptos para defender a nação ariana. Assim, muitos foram castrados durante os experimentos científicos, mas a “cura para esta moléstia” nunca foi diagnosticada.

Os comandantes alemães de Hitler não só dizimaram os “diferentes”, como também ultrajaram de todas as formas possíveis. E assim como os judeus usaram um emblema amarelo na roupa para identificá-los, os gays passaram a usar, obrigatoriamente, um triângulo rosa. E para as mulheres  que se mostravam "anti-sociais" e para as prostitutas e lésbicas foi criado um  triângulo preto invertido.  Essa imagem também foi usada para identificar os deficientes, os alcoólicos, os desocupados e os grevistas. Mais tarde, anarquistas radicais adotariam o triângulo negro como um símbolo contra a repressão e de consciência antimilitarista e anti-autoritária.

Ainda em 2000, o filme “Parágrafo 175” receberia o prêmio Teddy Award como melhor documentário do ano. Aposto que você nunca tinha sequer ouvido falar nele. Eu também não. Somente em 1994, com a reunificação da Alemanha, o governo revê sua crueldade e acaba revogando a lei  tão singular e ignorante. O mais triste de tudo é que ao findar a guerra, os judeus acabaram libertados mas os homossexuais continuaram presos. Os horrores  vivenciados entre os anos 1933-1945 foi considerado como um dos últimos segredos do Terceiro Reich.
Conhecendo um pouco o Vale do Taquari, penso que mesmo hoje, em pleno século XXI, se assumir homossexual é travar uma batalha diária contra o preconceito e a intolerância. 
E pior, contra o ódio. 
Um ódio que quando não mata, humilha. 
Muitos ainda continuam encarcerados dentro do próprio corpo, condenando a um eterno silêncio e desequilíbrio também o próprio espírito.

* Minha  crônica não publicada no A Hora.

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