photo by Marcin Gorski
1 Unanimidade: todos reverenciam Roberto
Carlos e lêem a Veja e os best-sellers. Taí todos múltiplos tons de cinza que
não me deixam mentir, mas também não me deixam curiosa. Apesar do Ibope
anunciar queda, todo mundo assiste Jornal
Nacional. Pelo menos quem veraneia em Capão da Canoa e Xangrila, a praia de todo mundo. Alias, esse todo mundo adora McDonalds e pipoca no cinema. Mais: neste canto
sul do país a humanidade gaúcha se divide entre gremistas e colorados. Curte
musica sertaneja. Idolatra as novelas brasileiras e coca-cola. Adora mulher
peituda e homem-tanquinho. A maioria da humanidade deseja asfalto na sua rua e
lamenta que arvores sujam o quintal e as calçadas. Pois Nelson Rodrigues,
dramaturgo reverenciado, 100 anos se vivo fosse, sentenciou: toda unanimidade é
burra.
Ta, nem tanto ao céu, nem tanto a terra.
Photo by Robert Doisneau
2 Ah, todos
meus amigos estão de paixões novas. E a paixão, a unanimidade reconhece aquele ingrediente gelatinoso que deixa os neurônios flácidos. Como não
gosto de gelatina tenho vontade de estapear cada vez que estou entre eles e
eles daquele jeito gusmento envolvidos
em fluídos. Já perceberam que não se consegue uma vírgula interessante em
qualquer papo onde estejam dois apaixonados?
Sim, nada é mais ameaçadora do que uma paixão. Essa libertina
que ameaça a liberdade, a inteligência e
a intimidade dos amigos que vivem desapaixonados, ao redor.
Ta, quase todos.
Photo by Joseph Koudelka
3 Amor,
então, um dia acaba. Você olha para ele, ele olha para você e nada mais
pulsa.
Mas ninguém quer dar o braço a torcer. E vai torcer na mesa
lambuzada da pizzaria onde todos se conhecem?
Roupa suja se lava em casa.
O amor termina quando as mãos não mais se encontram na rua,
não mais se procuram embaixo do edredom. Quando o beijo se esquece de
acontecer. O amor acaba quando a trilha sonora das estações não faz nenhum dos
dois se emocionar. Sim, um dia o amor acaba para acontecer em outro lugar, com
outro alguém. Mas, primeiro uma bela paixão.
Agora uma epifania banal: unânime paixão, depois amor,
morte.
E começa tudo de novo.
Novo?
Um comentário:
Delícia esse post 'aleixado', de três textículos !
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