sábado, 17 de março de 2012

CRÔNICA DA SEMANA


CRESCER É MORRER DEVAGARZINHO
Esse é o título do primeiro capítulo de um livro que ando escrevendo beeem lentamente.  Tracei as primeiras linhas em 2009 e agora já vivemos a segunda década do século. Essas coisas mexem comigo: velocidade, tempo, memória.
O livro aborda o universo ficcional e real da vidinha de um personagem em uma cidade do interior, durante os anos setenta. Sim, no tempo da ditadura.

“Toma distanciamento...” - ecoa nos meus ouvidos o conselho de um louvável e conceituado escritor durante uma conspiração literária. Putz, é tão difícil.

Crescer também é nos separar da infância e visitá-la no seu avesso. 
Parece que morre a criança dentro da gente para dar vida ao adolescente chato, ao adulto ambicioso, ao velho medroso. De repente me vejo cruel na narrativa que vasculha os temas secretos da minha própria adolescência.
Vejam bem, SE eu não morasse nesta cidade, nesta região, poderia escrever sobre o que quisesse e ninguém se importaria com nada. Mas vivo aqui e ainda tenho a pretensão de vir a ser escritora.
TRAPAÇAS LITERARIAS
O que faz um escritor para criar a ilusão da veracidade dos fatos de seu romance, novela ou conto?
Alguns usam locais que realmente existem, situações abordadas na mídia, nomes conhecidos, depois  bordam tudo com a voz pessoal de sua alma ficcional. Já fiz isso nos meus “es-críticos”. Porém quando mostrei para algumas pessoas que prezo muito, foram quase unânimes: vai dar confusão. E não houve  argumento conciliatório. Precisei mudar nomes e até o título. Com isso prolonguei o inverno da minha literatura e botei  para hibernar na gaveta. 

Depois, quem lê livros ainda?
Dizem que existem mais “escritores” do que leitores nesses tempos de eublog.
E outra - tire a média por você que lê jornal e revistas - quantos livros comprou  no ano passado? E quantos realmente, leu? 
E que tempo sobra para ler um livro com tanto filmes bons nas locadoras e novelinhas na tevê Marinho?
UMBERTO ECO
Na última feira do livro de 2011 comprei o romance “O Cemitério de Praga”, que exemplifica bem essa questão realidade/ficção. 
O escritor e filósofo Umberto Eco  misturou sua cultura erudita e verdadeira com a narrativa ficcional. Criou o personagem do falsário Simonini e o ajustou em uma história do século XIX   em um ambiente real e histórico. 
Tudo isso é avisado ao leitor na própria orelha do livro.
Mas Eco diz algo muito interessante sobre escrever um romance: seria como acompanhar o crescimento de uma criança. Depois que nasce leva dois anos para começar a andar e falar. Nesse meio tempo é necessário cuidar direitinho dela. 

À propósito: não se surpreenda com as primeiras paginas de “O Cemitério de Praga”. Sim,  a gente leva um susto. Parece que  o escritor tem um acesso de preconceitos raciais, anti-semitas, anti-saxões, anti-tudo.
Na internet descubro em entrevistas que Eco nada mais fez do que compilar clichês de livros escritos logo após a primeira guerra mundial e do próprio filósofo Nietzsche.

Normalmente, Umberto Eco leva seis anos para coletar material, escrever e reescrever suas histórias. 
Alívio! Desfiando minhas histórias, estou ainda dentro do prazo de validade. 
Ou expirando devagarzinho.

* Jornal Opinião, de Encantado.

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