sábado, 12 de junho de 2010

A MALDIÇÃO DA CONSERVAS

Hoje restam algumas ruínas no local
e o nome do bairro de Conservas.
José A. Schierholt (Lajeado 1)



Contou-me um morador de Roca Sales a história de algumas famílias que para esta cidade migraram no fim da década de 30. Uma história que pode ser considerada engraçada, séria, verossímil, ou fantasiosa, imaginária, uma lenda e até mentirosa.


O nosso contador do caso pode ser chamado de João Ninguém, um dos muitos existentes no nosso país. Nome este que dará a devida discrição que, segundo ele, pede a sua fala. Eis o que narra o nosso curioso personagem:


“Durante muito tempo a fábrica de conservas Oderich deu trabalho e tranqüilidade para as pessoas que viviam na cidade de Lajeado.


Nós vivíamos às margens do rio Taquari neste município, onde meu avô era caiqueiro e transportava as pessoas de um lado para outro, no caso Lajeado/Estrela ou no sentido contrário.


A fábrica supria as necessidades dos que viviam a sua volta, e o rio completava com pescado.


Na época de meu avô e de seu transporte, éramos felizes até a fatídica noite em que alguém bateu à casa de vovô e pediu passo.


O passageiro que pediu travessia para Estrela era de poucas palavras. Vovô puxava assunto e não era correspondido. Resolveu não incomodar aquele homem estranho e de pouca conversa.


Estavam próximos à margem quando vovô observou uma estranha transformação. O homem crescia transformando-se num gigante. Faltando uma distância de alguns metros, vovô viu a estranha figura transpor uma grande distância, cerca de cinco ou seis metros num passo.


Completamente apavorado, vovô voltou para o lado de Lajeado, convicto de ter transportado o demônio.


Começava nesse acontecimento uma série de fatos que iriam modificar a vida da comunidade.


Um empregado da fábrica de conservas morreu acidentalmente no trabalho.

Duas irmãs gêmeas trabalhadoras da fábrica de conservas, com casamentos marcados, tiveram os mesmos não realizados. Uma delas contraiu uma doença e morreu; a outra, profundamente entristecida, acabou tendo o mesmo destino.


Era o demônio visto por vovô ocasionando desgraças em cima de desgraças.

E foi assim que a fábrica parou; pessoas perderam seus empregos, seus modos de subsistência.


Da antiga construção, só sobraram as ruínas, e nós, os Marmitt, os Fritch e os Raupp, viemos morar em Roca Sales”.


Este foi o conto a respeito das desgraças acontecidas à fábrica Conservas e, segundo a teoria do nosso narrador, o personagem João Ninguém, a humanidade atual não acredita no diabo, mas, com as maldades que nos rodeiam, acreditem, folclórico ou exagerado, parece que o nosso narrador tem razão.

JOÃO MANOEL
12 de fevereiro de 2004


















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