terça-feira, 22 de junho de 2010

PAU NA VEJA

“O Brasil tem uma revista semanal, “Veja”, que se considera a maior do país. (...)



Deixei de assinar essa porcaria anos atrás, já não me lembro se por algum motivo específico, ou se foi, apenas, porque um dia peguei na porta de casa e me espantei: eu ainda gasto dinheiro com esta merda? (...)




Hoje, a “Veja” é reduto de uns caras chiliquentos como Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes. “Ah, você não lê, como sabe?”, vai perguntar alguém. (...)


Mas não quero falar aqui dessas figuras ridículas que acham que escrevem bem e que se julgam parte de algum grupo de pensadores contemporâneos, já que são cheios de fazer citações by Wikipedia e com elas impressionam seus leitores babacas.



O que escrevem e dizem, para não ofender demais, repercute entre eles três e seus leitores babacas, todos compartilhados. (...)





Só que a capa da “Veja”, embora a revista seja uma droga indizível, tem importância, sim. Afinal, ela é vista por alguns milhões de pessoas, repousa amarrotada durante meses em mesinhas de consultórios médicos, dentistas e despachantes, e as pessoas a notam nas bancas de jornais, ao lado de mulheres peladas. (...)


E aí aparece aqui na minha frente, no estúdio da rádio, a ”Veja” que foi hoje às bancas. Na capa, “CALA BOCA GALVÃO”, uma foto do narrador da Globo, e está dada a senha para uma pretensa reportagem séria de sete páginas, um “box” e três gráficos sobre o poder do Twitter, motivada por uma bobagem infanto-juvenil que nem os “tuiteiros” levam muito a sério, lançada no dia da abertura da Copa.



Aliás, nem o Galvão levou a sério, claro, porque discutir um uma “hashtag” de Twitter é como sugerir um seminário para analisar a musicalidade de uma vuvuzela, ou um congresso sobre comunidades bizarras do Orkut.




Ontem morreu José Saramago. O maior escritor da língua portuguesa mereceu desse semanário indefensável meia página, com uma foto e uma legenda editorializada, porque ”Veja” tem opiniões formadas até sobre índice e numeração de páginas.


Diz a legenda: “ESTILO E EQUÍVOCO”, reduzindo Saramago a isso, a alguém que tinha estilo e era equivocado, para atacar as posições políticas e religiosas do escritor, comunista e ateu.


Alguém ser comunista e ateu, para a “Veja”, é algo mais condenável do que estuprar a mãe no tanque.

“Ao lado da criação literária, manteve-se sempre ativo, e equivocado, na política”, diz o texto pastoso, que nem assinado foi. Uma pobreza jornalística inacreditável.

“Nos países cujos regimes ele defendia, nenhum escritor que ousou discordar teve o luxo de uma morte tranquila”, encerra o autor.


Como é que alguém pode escrever uma merda desse tamanho? Será que essa gente não tem vergonha do que coloca no papel?





Pois todas as palavras ditas e escritas por Saramago, capaz de obras-primas da literatura universal como “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, “Ensaio Sobre a Cegueira”, “Todos os Nomes”, “Memorial do Convento”, “Caim”, “Jangada de Pedra”, mereceram da “Veja” meia página, enquanto três palavras bobas espalhadas pelo Twitter foram parar na capa da revista e em sete de suas páginas.


O que mais me atormenta, quando vejo essas coisas, é saber que graças a decisões editoriais como essa, uma babaquice como o “CALA BOCA GALVÃO” assume, diante dos olhos e do julgamento dos retardados que levam tal revista a sério, uma importância bem maior do que a vida e a obra de Saramago.


Saramago pedindo um café a sua esposa tem mais conteúdo, provavelmente, do que todas as edições juntas de “Veja” dos últimos 15 anos.


Ele tinha razão, quando falava do Twitter — não se enganem, Saramago tinha até blog, não era um velhote vivendo numa caverna.


Numa recente entrevista por e-mail a “O Globo”, disse:


“Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido”.


Pois a “Veja”, hoje, inaugurou a era do grunhido impresso.”

@ "Saramago versus Veja. Nao sabia que me consideravas um retardado mental, leio a Veja sempre e por isso nao passo de um debiloide. Como posso admirar Mainardi, que diz o que penso sobre politica, politicos, e afins? Como posso desprezar Saramago, um comunista como todos os outros, que amava e admirava Cuba e seu regime antidemocratico e assassino mas nunca se dignou a morar la na pobreza (ao contrario de seus dirigente, logicamente) e foi morar no luxo paradisiaco das Ilhas Canarias???
Ah, tao humano e sincero ser comunista distante do comunismo e de maos dadas com o capitalismo tao selvagem, ne?
A Veja tem toda a razao, em nenhum pais comunista um escritor de talento, contrario aos ditames, viveu ou morreu dignamente como todos os idelistas de esquerda que vivem em paraisos capitalistas e ricos vivem e morrem. "
Autoria preservada

5 comentários:

Mariá disse...

Ou voce não sabe discernir o certo do errado, ou é um petista roxo, para não ler a Veja. Azar o seu. Sempre saberá apenas metade da verdade.

Monica disse...

Nossa fico impressionada com pessoas que ainda usam a mídia padrao para desenvolver sua opinião. Dizer a quem nao lê a Veja é Petista roxo, ou que nao sabe discernir certo do errado...convenhamos de ler até diario gaucho. ötimo post este do Flavio, certiiissimo, pois assim como Veja, Isto é e Epoca, temos zero hora, folha que só divulgam a sua meia verdade, ou meia mentira...

Mariá disse...

Antes um Petista, agora uma Petista.

Anônimo disse...

A Veja mata a pau ...
Tem crianças nas creches que usam muito as fotos para fazer colagens e bandeirinhas por causa do colorido brilhoso....
A ZH não é boa não..
Em determinados carros fica sobrando ou faltando tamanho para preencher o espaço em cima dos tapetes..
No entanto absorve bem a umidade e isso é show...vale a pena !

Mariá disse...

opa, 2 x 1 para o PT