Deixei de assinar essa porcaria anos atrás, já não me lembro se por algum motivo específico, ou se foi, apenas, porque um dia peguei na porta de casa e me espantei: eu ainda gasto dinheiro com esta merda? (...)
Hoje, a “Veja” é reduto de uns caras chiliquentos como Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes. “Ah, você não lê, como sabe?”, vai perguntar alguém. (...)
Mas não quero falar aqui dessas figuras ridículas que acham que escrevem bem e que se julgam parte de algum grupo de pensadores contemporâneos, já que são cheios de fazer citações by Wikipedia e com elas impressionam seus leitores babacas.
O que escrevem e dizem, para não ofender demais, repercute entre eles três e seus leitores babacas, todos compartilhados. (...)
Só que a capa da “Veja”, embora a revista seja uma droga indizível, tem importância, sim. Afinal, ela é vista por alguns milhões de pessoas, repousa amarrotada durante meses em mesinhas de consultórios médicos, dentistas e despachantes, e as pessoas a notam nas bancas de jornais, ao lado de mulheres peladas. (...)
E aí aparece aqui na minha frente, no estúdio da rádio, a ”Veja” que foi hoje às bancas. Na capa, “CALA BOCA GALVÃO”, uma foto do narrador da Globo, e está dada a senha para uma pretensa reportagem séria de sete páginas, um “box” e três gráficos sobre o poder do Twitter, motivada por uma bobagem infanto-juvenil que nem os “tuiteiros” levam muito a sério, lançada no dia da abertura da Copa.
Aliás, nem o Galvão levou a sério, claro, porque discutir um uma “hashtag” de Twitter é como sugerir um seminário para analisar a musicalidade de uma vuvuzela, ou um congresso sobre comunidades bizarras do Orkut.
Ontem morreu José Saramago. O maior escritor da língua portuguesa mereceu desse semanário indefensável meia página, com uma foto e uma legenda editorializada, porque ”Veja” tem opiniões formadas até sobre índice e numeração de páginas.
Diz a legenda: “ESTILO E EQUÍVOCO”, reduzindo Saramago a isso, a alguém que tinha estilo e era equivocado, para atacar as posições políticas e religiosas do escritor, comunista e ateu.
Alguém ser comunista e ateu, para a “Veja”, é algo mais condenável do que estuprar a mãe no tanque.
“Ao lado da criação literária, manteve-se sempre ativo, e equivocado, na política”, diz o texto pastoso, que nem assinado foi. Uma pobreza jornalística inacreditável.
“Nos países cujos regimes ele defendia, nenhum escritor que ousou discordar teve o luxo de uma morte tranquila”, encerra o autor.
Como é que alguém pode escrever uma merda desse tamanho? Será que essa gente não tem vergonha do que coloca no papel?
Pois todas as palavras ditas e escritas por Saramago, capaz de obras-primas da literatura universal como “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, “Ensaio Sobre a Cegueira”, “Todos os Nomes”, “Memorial do Convento”, “Caim”, “Jangada de Pedra”, mereceram da “Veja” meia página, enquanto três palavras bobas espalhadas pelo Twitter foram parar na capa da revista e em sete de suas páginas.
O que mais me atormenta, quando vejo essas coisas, é saber que graças a decisões editoriais como essa, uma babaquice como o “CALA BOCA GALVÃO” assume, diante dos olhos e do julgamento dos retardados que levam tal revista a sério, uma importância bem maior do que a vida e a obra de Saramago.
Saramago pedindo um café a sua esposa tem mais conteúdo, provavelmente, do que todas as edições juntas de “Veja” dos últimos 15 anos.
Ele tinha razão, quando falava do Twitter — não se enganem, Saramago tinha até blog, não era um velhote vivendo numa caverna.
Numa recente entrevista por e-mail a “O Globo”, disse:
“Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido”.
Pois a “Veja”, hoje, inaugurou a era do grunhido impresso.”
@ "Saramago versus Veja. Nao sabia que me consideravas um retardado mental, leio a Veja sempre e por isso nao passo de um debiloide. Como posso admirar Mainardi, que diz o que penso sobre politica, politicos, e afins? Como posso desprezar Saramago, um comunista como todos os outros, que amava e admirava Cuba e seu regime antidemocratico e assassino mas nunca se dignou a morar la na pobreza (ao contrario de seus dirigente, logicamente) e foi morar no luxo paradisiaco das Ilhas Canarias???
Ah, tao humano e sincero ser comunista distante do comunismo e de maos dadas com o capitalismo tao selvagem, ne?
A Veja tem toda a razao, em nenhum pais comunista um escritor de talento, contrario aos ditames, viveu ou morreu dignamente como todos os idelistas de esquerda que vivem em paraisos capitalistas e ricos vivem e morrem. "
Autoria preservada
5 comentários:
Ou voce não sabe discernir o certo do errado, ou é um petista roxo, para não ler a Veja. Azar o seu. Sempre saberá apenas metade da verdade.
Nossa fico impressionada com pessoas que ainda usam a mídia padrao para desenvolver sua opinião. Dizer a quem nao lê a Veja é Petista roxo, ou que nao sabe discernir certo do errado...convenhamos de ler até diario gaucho. ötimo post este do Flavio, certiiissimo, pois assim como Veja, Isto é e Epoca, temos zero hora, folha que só divulgam a sua meia verdade, ou meia mentira...
Antes um Petista, agora uma Petista.
A Veja mata a pau ...
Tem crianças nas creches que usam muito as fotos para fazer colagens e bandeirinhas por causa do colorido brilhoso....
A ZH não é boa não..
Em determinados carros fica sobrando ou faltando tamanho para preencher o espaço em cima dos tapetes..
No entanto absorve bem a umidade e isso é show...vale a pena !
opa, 2 x 1 para o PT
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