A SABEDORIA DOS MAIS VELHOS
Existem valores que aprendi desde criança, tanto na escola Madre Barbara onde estudei por dez anos quanto nas catequeses que freqüentei até a crisma. Com os mais velhos, logo cedo aprendemos ditados aparentemente banais.
“A pressa é inimiga da perfeição”, dizia minha mãe quando, apressado, terminava qualquer atividade que exigisse tempo e paciência.
“O apressado engole quente”, dizia minha avó, enquanto a sopa queimava a garganta. Os médicos sempre nos ensinaram a mastigar sessenta vezes antes de engolir o alimento. Os vinhos mais caros demoram anos para atingir a maturação. Os escritores mais sábios vivem uma vida para conseguir transmitir um pouco de verdade. Tudo o que é perfeito teve o tempo ao lado de si, contribuindo para ser.
Como cidadão, me é urgente saber exatamente onde se localiza esse novo terreno onde, em duas semanas, será o presídio.
Eu preciso saber se foi feito algum estudo de impacto sócio ambiental nessa nova área. Deixaremos de enfrentar problemas com a FUNAI e seremos obrigados a discutir agora com o MEC caso nos aproximemos ainda mais das crianças do Ciep?
Talvez parte da população também queira saber como foi que, do nada, uma área de terra surgiu como alternativa.
Houve tempo hábil para estudá-la?
Isso é o mínimo que se espera de uma administração que deveria ter o povo em primeiro lugar.
Vamos com calma e cuidado.
Vamos lembrar dos conselhos dos nossos antepassados, dos que fizeram essas terras e construíram nossa prosperidade: a pressa é inimiga da perfeição.
É o futuro nosso e dos nossos conterrâneos que está em jogo.
Pensem nas pessoas que moram lá e que, na única audiência pública em que puderam ser ouvidas, em que foram convidadas, na única audiência pública que se deu no seu bairro, disseram não.
Não ouve plebiscito oficial para se ouvir a verdade isenta sobre a vontade REAL de uma cidade.
Volto a repetir o que todos presenciamos ao vivo, no bairro Santo Antônio: quando foi perguntada, a comunidade disse não.
Todos estávamos lá para ver.
Filmamos, fotogramos, e lembramos.
Cabe a você a responsabilidade de não esquecer.
Cabe a quem a responsabilidade de se fazer pensar?
* escritor
4 comentários:
Ha mais ou menos 28 anos atraz,minha esposa e eu mudamos para Ossining,uma comunidade as beiras do rio Hudson ao norte de New York city , atraidos pelos precos dos alugueis, bem mais baratos que em outras areas. Nao me havia dado conta no momento que, a uns 400 metros de distancia, no outro lado da lomba, a beira do rio, situava-se a famosa prisao Sing-Sing, residencia perpetua de varios notorios criminosos. Foi quando me dei conta do porque dos alugueis e tambem dos imoveis em geral serem bem mais baratos que em outros lugares. Mais de uma vez fomos alertados pela policia local batendo em nossa porta ,para nao sair de casa devido a uma tentativa de fuga ou outra situacao relacionada com o presidio. Depois do nascimento de meu filho, mudamos.Nao consigo entender que, se o povo disse nao,do porque da insintencia de alguns em manter o projeto na mesma area. Sim,obviamente a palavra chave disso tudo e "VERBA", o que me faz lembrar tambem de um "dito" que escutava de minha avo,ao deixar coisas valiosas desguardadas:"A ocasiao faz o ladrao"! Entendam o que quiserem. Ismael disse tudo e disse bem. Excelente comentario.
gostaria que os senhores do tempo fossem explicar o seu tratado sobre a paciência no atual presídio de lajeado. tenho certeza que iriam querer sair rapidinho lá de dentro. os ideais românticos esbarram na realidade e é preciso escolher, muitas vezes os teóricamente mais cultos e avançados acabam se mostrando retrógados e fiéis à vingança social que se faz nos presídios, enquanto nos encontrarmos nesse estágio de hipocrisia nunca haverá consenso.
Gostaria de esclarecer que ,pessoalmente, nao sou contra a construcao de presidios. Infelizmente, e um mal nescessario no mundo em que vivemos. A palavra chave deste debate todo e LOCAL !Quando uma comunidade se manisfesta contra tal projeto em seus arredores, o assunto deveria morrer ali. Nao significa nao!Conheco o presidio de Lajeado e, gracas a educacao que tive, apenas do lado de fora. Todos possuimos a capacidade de optar por uma vida honesta ou nao. Diferencas sociais nao justificam uma vida de crime para um se sustentar ou suas familias.Marcou, bailou!Se a vida "la dentro" for miseravel e justamente para que , quando sairem de la, nao queiram nunca mais voltar!Ao menos, essa e a teoria.E se as prisoes estao lotadas, obviamente e um sinal de que os programas sociais e de desenvolvimento para as classes menos previlegiadas nao esta dando certo. Mas esse e outro bixo a ser domado. Uma Educacao decente e o direito de todos. Com ela em mao, uma vida de crime deixa de ser uma opcao. Certo ou errado?
certamente o mais importante é investir em educação. o problema é que não podemos ultrapassar a função pricional e voltar ao tempo das masmorras e tortura. educação também é reflexo de como tratamos aqueles que se desviam. prefiro mil vezes ajudar e dar dinheiro à causas mais nobres, mas no estado em que estão, os presidios sao prioridade. óbvio que o local escolhido é um dos mais pobres e com menos poder da cidade, mas isso é normal, não podemos ser hipócritas e sugerir um presidio em área mais nobre, isso sim seria um contracensso.
Postar um comentário