Escrevo da praia.
De Garopaba.
Quem foi mesmo que disse ser Março o melhor mês para veranear no verão?
Chove.
Chove muito.
Horrorizada pergunto ao meu filho como ele sobrevive sem computador, sem internet. Como?
Ele sorri e mostra o mar.
Mas eu não surfo.
Então leio.
Leio, leio, leio.
*
Na praia resolvi voltar às origens: fervo os panos de prato. Dentro de uma panela. Nada de tanque, nada de máquina de lavar. Fervura para desencardir. Ou para libertar a alma? Só lamento que não seja em fogão à lenha. Nada é perfeito - penso entre os vapores escaldantes que transformaram a cozinha numa sauna.
*
Anna Carolina, na curiosidade de seus quase 10 anos, quer saber porque uso desvios e estradinhas de chão batido para transitar entre Garopaba e a praia da Ferrugem.
- Por saudades.
Ela faz uma cara de tédio resignado.
Tenho saudades de uma Garopaba nativa, mais “Fuscão Preto”, mais pescador, mais cabrito, mais banho de cachoeira na Encantada, mais trilha no Morro da Vigia sem aqueles monstrengos arquitetônicos se equilibrando por lá.
*
A panela onde fervo os panos de prato transborda e queima minha nostalgia de final dos anos 70.
O mais triste não é o asfalto e os pardais na rodovia de acesso a cidadezinha. O mais triste não é o crescimento comercial que promoveu o corte de árvores na rua principal que se debruça na beira-mar e onde as ressacas, aos poucos, terminam com a faixa de areia da praia.
O mais triste é não ter memória.
*
Dipinduro os panos de prato no varal. Como se lenços, para atrair bons presságios. Um vento sopra e fico na torcida para que traga de volta dias melhores. Pelo menos, mais secos.
Minha crônica nos Jornais A Hora, Opinião e http://www.regiaodosvales.com.br
Um comentário:
O nosso tempo esta passando ,minha querida amiga. Apenas isso!Nada de mal, quero crer.So espero que as boas memorias ainda em nossas mentes ,nao se apaguem tao rapidamente.
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