sexta-feira, 19 de agosto de 2011

CARPE DIEM

Encontro de  mulheres. Melhor: reencontro de amigas de infância.
Quem já não participou de um?
Muitas risadas, muito espanto e algumas confidências reveladas.
Quase todas se conhecem há quase quarenta anos, apesar de hoje pouco se verem. Estudaram no mesmo colégio onde juntas pularam corda no recreio, venderam rifa para mais bela prenda, suspiraram pelo mesmo menino. Depois cresceram e o menino foi embora da cidade.

Enfrentaram juntas o ginásio quando ainda se chamava ginásio, aprenderam a usar o pirógrafo nas aulas de Técnicas Industriais, engoliram a cola de matemática, e juntas se apaixonaram pelo professor de educação física que um dia foi dispensado pela diretora de puro ciúmes!

Juntas as amigas cursaram o Científico quando esse ainda se  chamava. Depois namoraram, cursaram faculdade ou foram trabalhar, casaram ou não, tiveram filhos ou não, viveram a vida que se apresentava naqueles anos de ditadura, naqueles anos sequelados, naqueles anos de brilhantina e meia luréx.

Todas tiveram opções de escolha e no encontro além de analisarem as rugas, trocar telefones dos cabeleireiros e suspirarem pelos filhos que foram tocar seus próprios destinos, pensaram também sobre o que fizeram de suas vidas. Ou o que a vida aprontou para elas na frágil encruzilhada de cada ocasião.



... e se não tivesse fumado o primeiro cigarro?
... e se continuasse no emprego estressante?
... cursado Teatro em vez de Jornalismo?
... não tivesse dançado até tarde?
... se tivesse segurado sua mão?
... não dito a verdade.
... se tivesse defendido sua opinião?
... engolido as palavras em vez de vomitá-las.
... se não tivesse mandado aquela carta?
... Artes em vez de Arquitetura?
... trancado a porta do quarto?
... se nunca tivesse voltado...
... se tivesse guardado a fotografia?
... se não tivesse trocado de emprego?
... jogado fora as chaves do armário.
... não dito a mentira.
... não tivesse gritado seu ódio?
... se não tivesse bebido tanto?
... História em vez de Direito?

Por um triz, por um nada, por um lambisco, por uma linha, um não ou um sim, e o horizonte poderia ser completamente diferente e ela outro e ele outro. E eles não. E eles sim. Mas alguém disse a palavra certa, a errada. Alguém avançou o sinal ou parou no último instante. Ou alguém ficou para trás. Um desistiu. Outro resistiu. Um comprou ingresso. Outro vendeu para ficar em casa. Uma tomou a pílula. Outra não. Uma abortou, outra pariu. Um ficou até o fim ao lado do pai. Outro, fugiu. Um se calou. Outro morreu por falar demais. Um disse que voltava. Outro não prometeu nada. Um atravessou o oceano, o outro abriu a janela e voou.

Oportunidades da vida que deixamos passar – alguém lembrou no encontro das amigas.
Opções desperdiçadas e nunca mais o leiteiro encheu o tarro novamente.
Mas todas sobrevieram para contar suas aventuras.
E des. Venturas.

* Minha crônica nos jornais A Hora de Lajeado, Opinião de Encantado e portal Região dos Vale.

Um comentário:

Roberto Ruschel disse...

na Festa da Alegria, o vestidinho mais curtinho, é o da Laurinha