Um anelzinho no dedo com a inscrição Geltrudes, apenas isso para dar sentido a mais uma vida que se foi entre as águas poluídas do rio Taquari.
Só que ninguém sentiu falta de Geltrudes.
Ninguém bateu na sua porta.
Ninguém chamou seu nome.
Ninguém ligou no seu celular.
Geltrudes deveria ter casa, uma família, um cachorro, um gato, um vasinho com manjericão na janela da cozinha...
Mas como ninguém sentiu falta de Geltrudes?
Geltrudes, mulher de idade triste entre 40 ou 50 anos, de cor branca, de cabelos castanho escuro e lisos, baixinha.
Geltrudes pensa muito antes de se decidir e quando se decide por algo ninguém a demove e ela mergulha de cabeça no seu objetivo e esquece todo o resto a sua volta.
É a sina do seu nome. Assim mergulhou nas águas frias do rio Taquari.
Mas Geltrudes não tinha amigos?
Uma vizinha? Uma tia que encontrava de vez em quando para dividir suas angustias? Ninguém visitava Geltrudes?
Nem um atento agente de saúde que percebia seus pensamentos doídos, a saudades dos seus 19 anos, a vontade de sentir o calorzinho de um abraço, de um elogio?
Geltrudes foi encontrada boiando no rio Taquari.
Volta para a terra, como indigente.
Até o dia que alguém apareça para reclamar se ninguém viu uma mulher que andava por aí conversando com as luzes da primavera.
Essa mesmo: Geltrudes.
Um comentário:
"...que andava por ai conversando com as luzes da primavera...".Uma realidade que doi muito e cada vez mais ao nosso redor. Brilhante escrita my frendi!
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