Chema Madoz
O escritor José Castello, cronista no caderno de cultura “Prosa & Verso” do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, escreveu certa vez que “só escreve boas crônicas quem aceita as nuances da existência”.
Então ta: sobrevivo tão sem nuances que minha existência parece se arrastar escadaria abaixo e batendo de contra a porta do Hades.
Tem dias, né?
Lembram o que o colega Mazzarino fez comigo na edição de terça-feira passada? Falta de assunto, falta de inspiração, sabemos bem como são essas coisas.
Que ninguém se admire de ver nas paginas policiais do A Hora ou no microfone do Renato Worm:
“Cronistas se estapeiam na rua e vão parar na delegacia”. O dr. Katz deve estar acostumado com esses loucos que perdem o amigo mas não perdem a piada. Talvez apenas tenha sorrido sob seu bigode freudiano. Eu precisei desligar o telefone.
Isso vai ter volta.
Voltando as tais nuances que me escapam e faz parecer que ando a reboque nestes últimos dias, vivendo aos trambolhões e futricando com o desassossego:
- Buscar forças onde?
Tem gente que se refugia nas orações, nos templos. Deus é inspiração.
Outros em academia, em festas de mascarados. A orgia também inspira.
Mas nada como um dia depois do outro e o imenso vazio para nos assombrar e, no meu caso, uma crônica - com prazo - para enviar ao jornal.
Todo mundo escreveu sobre o sentimento patriótico ou sobre os dez anos das torres gêmeas e onde-você-estava. Putz, essas coisas me deixam louca: lembrar onde estávamos com quem e fazendo o quê - há dez anos? Nunca sei.
Assimilei a velocidade cibernética em troca da memória.
Claro que não é daquelas certezas absolutas, mas minhas preferências recaem sobre as crônicas de Diana Corso, Mario Prata, Moises Mendes, Castello, enfim, eles me seduzem. Dão o seu recado com direito de causa. Da minha parte implico com as “crônica-gênero-do-eu-confessional”. É muito pessoal. Aliás, demais. Por isso, muitas vezes procuro sair pela tangente, como agora.
Ando cansada dessas nuances que leio nas vitrines dos jornais sobre mundinhos e famílias perfeitas, viagens particulares pelo mundo ou de como a vida é bela e maravilhosa ou ainda, pior, como agir para segurar o seu homem. Um olhar muito envaidecido de si. Já entendi que “as migalhas do cotidiano são o repertório do cronista”. Sim, mas só valem se é para contribuir com os farelos dos outros, não é?
Porque a crônica não é galinheiro de pavão.
Ou é?
Porque a crônica não é galinheiro de pavão.
Ou é?
Melhor falar sobre o 20 de setembro e seus farrapos que justificam mais um feriado na terça-feira? Ou da Primavera, divina, com os ipês explodindo por todos os cantos verdes das cidades e das serras? Falar sobre o derradeiro Outono que encerra mais um ciclo na vida de cada um de nós? Ai, minhas nuances esfarrapadas.
* Minha crônica no A Hora e Região dos Vales, deste findi.
* Minha crônica no A Hora e Região dos Vales, deste findi.
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