Volta e meia o assunto - fascinante para muitos - vem à tona.
Por estes dias em Paris fala-se de Jean-Marie Loret, ferroviário francês morto em 1985, que partiu desta acreditando que era filho ilegítimo de Adolf Hitler.
Vira e mexe alguém aparece para reivindicar os genes nazistas. Considerado a encarnação do diabo na Terra, como pode alguém revirar poeira e sangue para atestar filiação do capeta?
Pois fez Loret durante boa parte de sua vida.
E, de acordo com seu registro de nascimento, lavrado em Seboncourt, cidadezinha francesa com não mais de 1.200 habitantes, o pai era um soldado alemão, não identificado, da Primeira Guerra Mundial.
A HISTÓRIA
O jovem cabo Adolf Hitler engajou-se se ao exército alemão em 1914, lutando contra as tropas francesas na Picardie, ao norte da França.
Sabe-se que, ocasionalmente, os soldados eram enviados para longe do front para recuperarem as forças e o espírito.
Numa dessas, em Fournes-in-Weppe, pequena cidade a oeste de Lille, o futuro ditador conheceria Charlotte Lobjoie, uma jovem de apenas 16 anos. Amizade vai, amizade vem, tempos difíceis, nunca se sabe quem volta de uma batalha que envolve trincheiras e morteiros.
Assim, Charlotte e Adolf acabaram estreitando as relações na primavera. Em março de 1918, o inocente Jean-Marie nasceria.
O tempo passa, a guerra termina naquele final de ano, bem ou mal Charlotte cria seu filho sem nunca revelar a paternidade.
Para piorar, na pobreza do pós-guerra, acaba deixando o menino sob a custódia de um casal, que o adota em 1934. Charlotte não deve ser condenada. Fome e miséria, plantações arruinadas no campo, desempregos nas cidades, o verdadeiro legado de uma guerra para o povo. Apesar do abandono, a mãe verdadeira nunca perdeu o contato com o filho, que cresceu e foi tratar da vida até que encasquetou sobre sua paternidade.
No início dos anos 1950, poucas semanas antes de morrer, Charlotte confessaria ao filho sobre Hitler. Após a morte da mãe, quando faxinava o sótão da casa, Loret encontraria algumas pinturas assinadas “Adolf Hitler" que o deixariam mais alucinado.
Após a revelação, Jean-Marie Loret começou sua jornada para descobrir se a história era verdadeira ou não, e iniciaria diversas pesquisas com uma determinação obsessiva. Retornou ao cenário de sua infância, procurou por geneticistas, especialistas em escrita e historiadores atrás de seu verdadeiro passado.
O PRESENTE
Agora, em fevereiro deste ano, a revista Le Point informou aos seus leitores sobre uma certificação genética realizada no Instituto de Antropologia e Genética da Universidade de Heidelberg, cujos resultados concluem que "na melhor das hipóteses, Loret poderia ser realmente o filho de Hitler, mas que ele não precisa ser tal, apesar do mesmo grupo sanguíneo.” E um outro estudo mostrou que ambos tinham caligrafia semelhante.
Em 1981, Jean-Marie Loret publicou o livro "Seu pai se chamava Hitler" sem maiores repercussões, mas que revelava os detalhes de suas investigações e entre outros fatos contava que durante a ocupação nazista na França, os oficiais da Wehrmacht teriam entregue a Charlotte, envelopes contendo dinheiro.
Agora, o livro ganha nova edição.
Enfim, mistério sobre a descendência de Hitler sempre gerou muita especulação e fantasia.
Para a literatura e o cinema um prato cheio.
* Minha crônica no jornal Opinião, Encantado.
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