Em 1924, o editor René Hilsum encomendou ao poeta e filósofo francês, Paul Valéry, 24 poemas em prosa, com as iniciais do alfabeto. Surge o famoso Caderno Rosa ou Caderno ABC, que trazia escritos ou fragmentos abstratos e que serviu de guia para muitos outros escritores. Daí a inspiração para um exercício de fluxo de consciência medido por palavras. Gosto delas assim soltas, até poderia colecioná-las. Criei então o meu alfabeto particular feito um guia do inconsciente.
Abismo, assombro, amoroso, arriscar, ambíguo, ausência, armadilha.
Bêbada, beata, bacantes, brisa, bailarina, breviário, boemia, bufão, breve.
Cego, casto, cristo, cronos, caleidoscópio, cartagena, catalunha, caverna.
Delírio, desejo, dardo, dor, decadência, diáfano, dúbio, dragão, despedida.
Erosão, espinho, ébrio, escolhas, eclipse, embuste, eros, ebulição...
Falo, fetiche, fervor, fera, filosofia, fissura, feitiçaria, fogo-fátuo.
Gentalha, gerúndio, grito, guirlanda, garganta, gralha, gárgula, gaiola.
Halo, horizonte, hipócrita, herói, hímen, honra, hortelã, hálito, hermafrodita.
Infância, ilha, insônia, incógnito, infinito, ídolo, ígneo, irracional, insensatez...
Jaula, judas, juras, jamais, joio, jagunço, jejum, joão-de-barro.
Ka, ke, kitsch, ko, ku, kuarup, kundalini.
Luar, limo, leveza, leila, l’amour, lenda, labareda, libertino.
Mágica, memória, mistério, mergulho, mentira, maldito, medusa, menestrel.
Nuances, noite, néctar, narcótico, naufrágio, neurose, ninho, narciso.
Ontem, obsceno, oca, óbvio, oculto, ócio, ódio, opressão, ôm...
Perverso, plenitude, palhaço, perigo, pluma, potência, pilantra, pó.
Quadro, quadril, quantum, quietude, queimação, quenga, quiçá, quintal.
Raíz, resquício, reviravolta, revolta, resistência, risada, rodamoinho, ritual.
Sangue, suor, saliva, secreção, sopro, sonho, silencio, seda, sim, senão.
Transparência, tempestade, trevas, tom, tumor, tabu, talismã, tibum...
Utopia, universo, uivo, úmido, ungüento, uníssono, urgência.
Vereda, vastidão, vazio, vagina, virtude, vacilo, volúpia, vertigem.
Xadrez, xeque-mate, xexéu, xucro, xará, xifópago, xodó.
Zênite, ziguezague, zimbro, zarabatana, zepelim, zé-povinho, zunzum...
* Minha crônica no Caderno Mais, jornal A Hora deste findi.
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