sábado, 9 de junho de 2012

ELIZABETH, JOANA, XUXA... E TANTAS OUTRAS


Elisabeth Nonnenmacher, 52, arquiteta, residindo na Austrália, vítima de abuso sexual, acompanhou com interesse as repercussões das declarações da artista Xuxa Meneguel, no programa Fantástico, da TV Globo.

Sabendo que o senador evangélico e presidente da CPI da Pedofilia, Magno Malta (PR/ES) pretende homenagear a apresentadora quando da assinatura da Lei Joana Maranhão, encaminhou suas observações e sugestão a Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes  e a vários outros parlamentares. E também  encaminhou ao blog  autorizando a publicação:


“Venho através desta, apresentar meus cumprimentos pela tão esperada aprovação da Lei Joana Maranhão (Lei 12.650/2012).

Aproveito da oportunidade também para manifestar, minha opinião como sobrevivente de abuso sexual na infância e autora de exaustiva campanha de conscientização para acabar com estes abusos e propagação de pedofilia no Brasil e no exterior, a respeito de seu convite para a Xuxa assinar a respectiva lei.

 Devo reconhecer que, a declaração da Xuxa  em se identificar como vítima de abuso sexual na infância foi corajosa e teve sua importância na divulgação pública, para mostrar a extensão do problema de abuso sexual em nosso país.


Entretanto, a Lei Joana Maranhão, se destina as vítimas que tiveram uma coragem ainda maior de identificarem os nomes de seus abusadores ao denunciarem, buscando o direito de justiça para elas mesmas, bem como contribuindo também para impedir legalmente que estes criminosos continuem a abusar de outras crianças.

O contrário da Xuxa, muitas destas vítimas ou sobreviventes adultas, desejaram de longa data apresentar denúncias, mas não podiam pois a lei não lhes permitia. Muitas destas colocaram em risco tudo o que tinham em busca da verdade, perdendo suas familias e tiveram suas saúdes abaladas. Como consequência,  muitas também foram prejudicadas nos estudos ou por causa disso, tiveram problemas para encontrar trabalho ou em se manterem nos mesmos. Muitas vivem hoje na pobreza, doentes, no abandono, no esquecimento e sob a perseguição de pessoas que ainda tentam lhes prejudicar por sua bravura.

Por isso, eu acho muito injusto que a Xuxa seja uma convidada de honra para assinar a Lei Joana Maranhão pois, além do exposto acima, não consigo ver como esta atriz-modelo e apresentadora de TV, que se tornou uma das personalidades de grande sucesso profissional e uma das pessoas mais ricas do pais, se enquadre neste perfil.


Apesar de compreender as origens que levaram esta modelo a voluntariamente aceitar práticas não aceitáveis por legítimas sobreviventes de abusos e desta celebridade trocar sua dignidade por privilégios que lhe ajudaram a subir na carreira no passado, isso não significa que tenhamos que aplaudir a mesma como um símbolo heróico que endosse uma luta que resgata os direitos que tantas sobreviventes buscavam na justiça o que a Xuxa não buscou, além da mesma ter contribuído para que toda uma geração de crianças fosse exposta a influência de comportamento sexualizado e estímulos e a erotização precoce através de seus programas infantis da Rede Globo.

 Ao contrário da Xuxa, faço parte de um grande número de sobreviventes que se sente mal com esta distorção de valores. Sou do tipo de sobreviventes que enfrentou as dificuldades de uma justiça que se negava a me ouvir, mas denunciei insistentemente o abusador e com minha persistência e iniciativa de exposição pública que a grande midia se esmerou em tentar abafar.


Ainda assim, continuei ajudando a promoverem alertas educativos que protegeram milhares de crianças em cidades onde residi no Brasil e também em outros estados. Já estou a quase uma década nesta luta de conscientização como sobrevivente, para tentar acabar com abuso sexual na infância. Enquanto vitima e mais tarde como sobrevivente, senti na própria carne o que é lutar contra abuso sexual na infância.

Apesar disso, não é meu objetivo sugerir através desta, que me convidem para a assinar a Lei Joana Maranhão no lugar da Xuxa mas, venho pedir que analisem bem a discriminação que está sendo feita com aqueles que lutaram por justiça e que considerem a extensão deste convite a milhões de vítimas e sobreviventes de abuso sexual na infância do Brasil, que realmente foram em busca da justiça que a Lei Joana Maranhão propõem e que merecem ser honradas nesta oportunidade.

Esta lei deveria ser assinada por sobreviventes que assim como a nadadora, não hesitaram em agir legalmente para ajudar a proteger outras crianças dos abusadores que lhes atacaram, independente de se seriam consideradas elegíveis a serem protegidas pela legislação de então. Estas sim, entre as tantas que enfrentaram as adversidades e tantas dificuldades de se denunciar, deveriam ser convidadas para JUNTAS com Joana Maranhão, serem um símbolo de coragem e de justiça para sobreviventes de abuso sexual na infância.


 Ao ter me inteirado dos significativos manifestos de protestos de uma multidão de brasileiros desagradados com as escolhas que a Xuxa fez para subir na vida, apesar de ela ter sido vítima de abuso sexual, acredito que esta nova proposta apresentada acima, seria mais bem recebida pelo povo. 

Por isso, sugiro que ao reconsiderarem a data da cerimônia de assinatura desta lei, anunciem junto a todas as comarcas do Brasil a extensão deste convite para que estas corajosas sobreviventes exemplificadas acima possam voluntariamente se apresentar junto as suas promotorias de justiça, para manifestar seu desejo de participar do sorteio de seus nomes na CPI da Pedofilia, para esta oportunidade de reconhecimento histórico.

É preciso acabar com os privilégios de uns poucos em desfavorecimento daqueles que merecem igualdade de oportunidades de reconhecimento. Isso sim, seria baseado nos direitos humanos e de justiça. Porque geralmente os ricos e famosos merecem preferência para serem honrados neste país?

Acredito que o povo brasileiro aplaudiria uma JUSTA decisão, tendo na cerimônia de oficialização da Lei Joana Maranhão, além da assinatura da nossa nadadora olímpica e corajosa sobrevivente, as assinaturas de honra de outras 99 vítimas e sobreviventes de abuso sexual na infância que legalmente denunciaram seus abusadores, em diferentes Estados do Brasil, completando com  este número de assinaturas, o “NUMERO 100” do Disque Denúncias contra abuso sexual na infância. Fica aí a minha sugestão.


Convido, outrossim, para visitar o saite “R-Evolução Anti Pedofílicos”, onde encontrarão o histórico de um trabalho de conscientização de quase uma década, bem como a publicação desta carta para o conhecimento do público que acompanha os esforços desta sobrevivente ao longo desta jornada de tempo, na espera que os representantes do povo realmente tragam condições de justiça e reconhecimento para que tantas vítimas e sobreviventes que não se corromperam possam tentar reconstruir suas vidas, ao mesmo tempo que protegemos as gerações futuras.

Aproveito também para lhes lembrar que, devido a “Progressão de Pena” para crimes hediondos concedida durante o período do governo Lula em 2006, o pedofílico Rogério Nonnenmacher se encontra hoje novamente em liberdade para abusar de outras crianças que, assim como aconteceu comigo, se manterão em silêncio por longos anos.

Na prática, o slogan do Senador Magno Malta que prega “O fim da impunidade, cadeia para os pedófilos e garantia de segurança para nossas crianças”, encontra muitos problemas causados pelo próprio governo para se tornar um sucesso.

Obrigada pela oportunidade de expressar a opinião de mais uma cidadã brasileira e sobrevivente de que vem lutando contra o abuso sexual na infância, sem conflitos de interesses.”

Sinceramente,
Elisabeth Nonnenmacher
Autora de “R-Evolução Anti Pedofílicos” (www.r-eap.org)






6 comentários:

Anônimo disse...

Era só o que faltava, homenagearem a tal Meneguel posando de vítima. Realmente este país a cada dia mais me decepciona. É ultrajante!

JORGE LOEFFLER .'. disse...

Respeito o sentimento dessa senhora, assim como respeito todas as vítimas de crimes tão covardes, mas essa lei vejo como um absurdo, pois em nosso país cada tipo penal vem sendo agraciado com uma lei especial. Penso que o caminho não seja este. Temos uma lei penal que necessita sim de uma revisão e atualização, pois de 1940. Hoje nossa lei penal tornou-se uma verdadeira colcha de retalhos qual se somam mais leis e leis. Não aceito a pena de morte, pois irreversível o que não permite corrigir eventuais erros. Nossa pena maior de fato é de 30 anos. Penso que nem seriam necessários os 30 anos. Bastariam 25 anos desde que acabassem com a tal progressão de regime. Hoje os bandidos sabem que pegam uma pena pesada e logo estarão mais uma vez nas ruas.
Cito um exemplo claro desse absurdo que é o tal Papagaio. Este facínora por certo comprou sua saída da PASC, pois foi a primeira “fuga” naquela casa prisional que um verdadeiro cofre construído em concreto armado. E digo isto até com certeza, pois a sindicância administrativa instaurada a apurar tal fuga nunca teve seu resultado revelado ao contribuinte que é quem paga a conta de todas as confusões que esse lixo humano vem fazendo já faz muito tempo.
Não foi fácil a recaptura dele no litoral de Santa Catarina tendo o pessoal do DEIC dormido ao relento entre dunas e comendo apenas bolachas e bebendo água mineral.
Desde então foi posto mais de uma vez nesse tal regime e fugiu novamente. Aqui no blog qualifiquei-o de filho da puta e sua então zelosa “adevogada” enviou um comentário me criticando e defendo os diretos humanos dele. Respondi perguntado a essa “senhora” pelos direitos humanos da família de quem ele matou friamente em roubo a banco em Parobé.
Durante suas sucessivas fugas aquela “adevogada” acabou largando-o. Assumiu então uma jovem “adevogada” que igualmente manifestou-se aqui no blog contrária ao tratamento que dispenso a esse cretino. A última dele foi requerer o direito de cumprir sua pena no Ceará, pois se dizia perseguido aqui no estado. Gente assim merece prisão perpétua.
O Congresso Nacional vem agindo da forma mais irresponsável possível, pois facilita a cada dia que passa ainda mais a vida de bandidos, ao invés de reduzir seus custos e empreguismo e com isto destinar esse dinheiro à construção de mais cadeias.

Anônimo disse...

Nosso sistema penal original foi baseado na "recuperação" do criminoso para futuramente poder ser inserido no convívio social normalmente. A realidade nos dá um tapa na cara todos os dias mostrando o quanto ele tem se mostrado falho. E as causas são tantas que o espaço é pequeno para discorrer sobre elas. Também temos que considerar o fato de que certos criminosos, por uma questão de perfil, não apresentam possibilidade de recuperação, por uma questão patológica. Um psicopata jamais vai se tornar uma pessoa "normal". Da mesma forma, um estuprador, um pedófilo. Ou seja, mesmo que cumpram toda a pena, quando saem, continuam a cometer os mesmos crimes. Na minha opinião, não deveriam ser soltos. A questão é complexa demais: envolve a elaboração de uma nova Constituição, a partir daí uma nova legislação penal, com a participação não apenas de juristas, mas de psicólogos, psiquiatras, psicanalistas, sociólogos, antropólogos... A sociedade também precisa participar do processo. E nós somos a sociedade.

JORGE LOEFFLER .'. disse...

Concordo.
E nossa Constituição com todos os seus problemas foi elaborada por uma geração, a minha, que comeu o pão que o diabo amassou com a bunda, daí o fato dela ser demasiado garantista. E no mesmo rastro vieram essa coisa esdrúxula chamada ECA e tantas outras, incluindo-se aí o nosso tribunal constitucional que vem dilapidando nossa carta política e de forma absurda, mexendo onde não deveria.

Álvaro Santi disse...

Disse tudo.

Anônimo disse...

Tá, mas e a Xuxa virando "abusada modelo", com direito a homenagem do Magno Malta? Essa é demais!
Esqueceram o malefício que ela proporcionou a uma geração de crianças erotizadas precocemente pelo programinha sem caráter dessa senhora na tv Globo? Eu não aguento!