Às vezes a gente lê o quer. Você sabe.
Está escrito o que
seus olhos querem ler.
Sim, muitas vezes acontece isso.
Passa os olhos correndo e
precisa voltar porque nem você acredita no que leu.
Troca drama por trama.
Caminhão por canhão. Geração por gestação. Críticos por cúbitos. Ou viceversa e
mais versa do que vice.
Olhos cansados. Olhos em correria.
Assim foi.
No sinal fechado li uma placa:
Oficina: troca-se carburador, surdina, capa de ética.”
Como? Volta.
“Capa elétrica.”
Sorri e logo o sinal abriu e lá me fui com uma sugestão de
crônica na cabeça. Esta.
Imaginem se a Ética usasse capa.
Usaria para ocultar ou para se proteger das tentações? Ou
para conferir poderes?
Uma capa super-homem, poderosa.
Uma inocente capa chapeuzinho vermelho?
Ou tipo a capa do Batmam usada pelo juiz Joaquim Barbosa
mais vistosa ainda.
Ética, cética, épica. Na leitura rápida se confundem e eu me
pergunto se ainda existe, mesmo que capenga, falha, tralha, rala.
Uma capa ética é pesada de se usar.
Verga o corpo como se na bainha da capa alguém embutisse
bolinhas de aço usadas nos carrinhos de romã, digo, rolimã.
O zeitgeist não anda propício para atitudes éticas. E a
gente se vê uma babaca insistindo no assunto que ninguém tem o menor interesse.
Penso nisso quando vejo as fotos de criaturas até então
ditas do bem (você leu zen?) assumirem secretarias nos governos de suas
cidades.
Alias, atribuída ao presidente Lincoln uma frase boa para essa
situação, ação, opção:
“Se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe
poder."
Quando no forno, desculpe, no trono, algumas criaturas
simplesmente mudam de caráter. Umas viram madres, uns viram frades.
Uns agregam, outros se superam em arrogância, tirania e
prepotência. Assim é. Muito riacho que se acha rio. Muita lua que se acha
planeta.
Sim, as capas são realmente pesadas de usar.
Démodé.
Não deveriam.
Práticas, ventilam, arejam, facilitam os
movimentos para nos salvar da tentação.
Ou não?
* Crônica nos jornais A Hora, Lajeado, Opinião, de Encantado.
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