terça-feira, 20 de novembro de 2012

TECLANDO O MUNDO


Desculpe, desculpe, mas viajar já foi interessante, mais desafiador.
Culpa da internet? Pode ser.

Antes, mistérios e fantasias. 
Antes, mal sabíamos das coisas surpreendentes que poderiam nos encantar. 
Antes, a gente tinha uma inveja danada de quem viajava. 
Os amigos voltavam embriagados de mistério e de superioridade. Não eram apenas turistas. Eram Os Viajantes. Era A Aventura. E as fotografias de papel kodak, palpáveis, certificavam: do outro lado do oceano, lugares remotos, hábitos diferentes, culturas estranhas e fascinantes que botava a gente a imaginar distancias a percorrer. Sim, viajar era realmente descobrir.

Talvez o Cinema também tenha contribuído para desmistificar os roteiros de viagem. 
Quase toooodo mundo conheceu Marrocos graças ao filme Casablanca. 
Agora, na esquina você encontra uma conhecida que acabou de voltar de lá e conta que os mercados árabes são maravilhosos. Atravessamos o planeta só para fazer compras?
Hoje, alguém diz que foi à Capadócia como quem foi ao shopping e muito antes dessa novela do São Jorge.

Ai... Sinto que estou na contramão, mas viajar perdeu a graça desde que inventaram a www. 
Teclando você sai daqui sabendo com antecedência de tudo até do nome do garçom do hotel. Alias, você confere Marrakech e a Turquia por inteiro na tela do seu computador. Dá para viajar quilômetros no Google Earth, de pijama e com uma xícara de café na mão. Passear dentro do souk, entrar nas cavernas, nos quintais das casas e nos corredores dos museus sem os congestionamentos de aeroportos, conexões, triagem na alfândega, pior, queda de avião ou atentado a bomba. Sem falar que todas as quinquilharias que você compra no exterior, existem por aqui em feiras internacionais de artesanato. No salão paroquial de Lajeado, vi.

Pois é, assim anda o mundo. Paroquial mesmo. 
E sem a graça da descoberta não sobra espaço nem para se inspirar. 
Claro, sempre têm as mordomias dos resortes, esses paraísos seminais, verdadeiros precipícios entre a realidade e o artificial.
Mês passado recebi um e-mail que mostrava uma câmera avançando bem de pertinho perscrutando Jerusalém da porta de Java até o Muro das Lamentações, locais que despertavam minha curiosidade desde os tempos jurássicos do Cine Avenida em Lajeado, quando Anthony Quinn surgia de Barrabás e o assombro tomava conta da gente de verdade.

É isso, desculpe minhas amigas de agências de viagens: mas agora com a internet tudo parece previsível. 
E com esse cotidiano louco, tão mais seguro minha caverna refrigerada, onde não perco passaporte nem sou assaltada em metrô. Basta uma tecladinha no Youtube e estou lá, confortavelmente, caminhando entre os mercados históricos e museus fascinantes. 
Claro, faltam os cheiros, os sabores e as risadas das viagens. 
Ta bom, nem tudo é perfeito, né?

* Minha cronica semanal nos jornais Opinião de Encantado e A Hora, de Lajeado.

2 comentários:

serjao disse...

Ainda lembro dos tempos em que para sair de viagem, principalmente de aviao, se vestia a melhor roupa, alguns ate compravam roupa so pra viagem! Ja hoje em dia, qualquer moleton faz a cabeca, quanto mais "solto" melhor.

Bernardo - Lajeado-RS disse...

Pior ainda é viajar de automóvel. Com essas estradas entupidas de gente maluca, querendo se matar e nos levar junto, pedágios, pardais, buracos. Perdeu a graça e passou a ser um saco. Antes, só o percurso já era a curtição da viajem. Hoje é um horror.