Desculpe, desculpe, mas viajar já foi interessante, mais
desafiador.
Culpa da internet? Pode ser.
Antes, mistérios e fantasias.
Antes, mal sabíamos das coisas
surpreendentes que poderiam nos encantar.
Antes, a gente tinha uma inveja
danada de quem viajava.
Os amigos voltavam embriagados de mistério e de
superioridade. Não eram apenas turistas. Eram Os Viajantes. Era A Aventura. E
as fotografias de papel kodak, palpáveis, certificavam: do outro lado do
oceano, lugares remotos, hábitos diferentes, culturas estranhas e fascinantes
que botava a gente a imaginar distancias a percorrer. Sim, viajar era realmente
descobrir.
Talvez o Cinema também tenha contribuído para desmistificar
os roteiros de viagem.
Quase toooodo mundo conheceu Marrocos graças ao filme
Casablanca.
Agora, na esquina você encontra uma conhecida que acabou de voltar
de lá e conta que os mercados árabes são maravilhosos. Atravessamos o planeta
só para fazer compras?
Hoje, alguém diz que foi à Capadócia como quem foi ao
shopping e muito antes dessa novela do São Jorge.
Ai... Sinto que estou na contramão, mas viajar perdeu a
graça desde que inventaram a www.
Teclando você sai daqui sabendo com
antecedência de tudo até do nome do garçom do hotel. Alias, você confere
Marrakech e a Turquia por inteiro na tela do seu computador. Dá para viajar
quilômetros no Google Earth, de pijama e com uma xícara de café na mão. Passear
dentro do souk, entrar nas cavernas, nos quintais das casas e nos corredores
dos museus sem os congestionamentos de aeroportos, conexões, triagem na
alfândega, pior, queda de avião ou atentado a bomba. Sem falar que todas as
quinquilharias que você compra no exterior, existem por aqui em feiras
internacionais de artesanato. No salão paroquial de Lajeado, vi.
Pois é, assim anda o mundo. Paroquial mesmo.
E sem a graça
da descoberta não sobra espaço nem para se inspirar.
Claro, sempre têm as
mordomias dos resortes, esses paraísos seminais, verdadeiros precipícios entre
a realidade e o artificial.
Mês passado recebi um e-mail que mostrava uma câmera
avançando bem de pertinho perscrutando Jerusalém da porta de Java até o Muro
das Lamentações, locais que despertavam minha curiosidade desde os tempos
jurássicos do Cine Avenida em Lajeado, quando Anthony Quinn surgia de Barrabás
e o assombro tomava conta da gente de verdade.
É isso, desculpe minhas amigas de agências de viagens: mas
agora com a internet tudo parece previsível.
E com esse cotidiano louco, tão
mais seguro minha caverna refrigerada, onde não perco passaporte nem sou
assaltada em metrô. Basta uma tecladinha no Youtube e estou lá,
confortavelmente, caminhando entre os mercados históricos e museus fascinantes.
Claro, faltam os cheiros, os sabores e as risadas das viagens.
Ta bom, nem tudo
é perfeito, né?
* Minha cronica semanal nos jornais Opinião de Encantado e A Hora, de Lajeado.
2 comentários:
Ainda lembro dos tempos em que para sair de viagem, principalmente de aviao, se vestia a melhor roupa, alguns ate compravam roupa so pra viagem! Ja hoje em dia, qualquer moleton faz a cabeca, quanto mais "solto" melhor.
Pior ainda é viajar de automóvel. Com essas estradas entupidas de gente maluca, querendo se matar e nos levar junto, pedágios, pardais, buracos. Perdeu a graça e passou a ser um saco. Antes, só o percurso já era a curtição da viajem. Hoje é um horror.
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