sexta-feira, 8 de abril de 2011

TEMPO DE PASCOA


Os mais religiosos, ou os mais antigos, conhecem a história na Bíblia.
Tomé, um dos doze apóstolos, não estava presente no momento em que Jesus aparece aos discípulos, assim que abandona o sepulcro.
Tomé perdeu o sopro misericordioso do Mestre: “Recebei o Espírito Santo”. Daí que todos foram perdoados e foram jantar um peixe assado temperado com favos de mel. Depois Jesus lavou as mãos, abençoou a galera e subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai dele. 

Atrasado para o encontro, Dídimo – apelido de Tomé – chegou na casa onde a turma estava reunida e logo ouviu o fuxico:
- Nós vimos o Senhor!
Duro de coração, Tomé olhou bem dentro dos olhos de cada um, mordeu o lábio inferior, alisou a barbicha, suspirou e disse:
- Se eu não vir em suas mãos a abertura dos cravos, e se não meter o meu dedo não lugar dos cravos, e se não meter a minha mão no seu lado, não hei de crer - disse e se retirou deixando os apóstolos louco da vida com aquela eterna desconfiança de São Tomé.
*
Não deu bem uma semana estavam lá os apóstolos discutindo o caminho das estrelas e a ganância de Pilatos quando Jesus aparece sem ser convidado e sem  bater na porta:
- A paz esteja convosco! – disse ele olhando fixamente para um Tomé de olhos arregalados – Mete aqui o teu dedo e vê as minhas mãos, chega também a tua mão e mete-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel.

Dídimo ficou com as pernas bambas e só conseguiu murmurar:
- Senhor meu, Deus meu...
- Pois é cara, tu só acreditou porque tu me viu? Bem aventurados os que não viram, mas creram.
*
Essa história cabe bem nesses dias que antecede a Páscoa, um tempo de ressurreição, de reflexões sobre o simbolismo do renascimento.

Cabe bem  a incredulidade de São Tomé de muitos que duvidaram da fé daqueles que se propuseram restaurar a Igreja de Santo Antonio de Loyolla, em Lajeado. Bem aventurados – talvez diria Jesus, embora homem muito simples - os que apoiaram a restauração: anônimos remediados e ricos de consciência pesada. Doar, mesmo com marketing atrás, é dos tempos penitentes de hoje. Afinal, Jesus era bom marqueteiro:
- Ide por todo o mundo, ensinai todas as gentes e batize o povo. Estarei observando tudo, estarei por perto. (Mais ou menos isso, porque Mateus, Marcos, Lucas e João também divergem entre si.)

A Matriz, como disse o querido p. Antonio no dia da inauguração na última terça-feira, é de todos. Eu acrescento: crentes e descrentes. Ela está realmente muito linda. 
Sem dúvida é o templo cultural mais tranqüilo e belo de nossa cidade. Convida ao silêncio, convida a meditação. 
E agora convida à música erudita, a qual temos tão pouco acesso. 
A igreja lotou e emocionou o povo com os acordes da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Parabéns a quem ocorreu a grande idéia. Parabéns à comunidade!

Posso imaginar que São Tomé, na sua franca descrença diria que, se não houve desvio de verba, todos tiveram nessa árdua missão de restauração, o olhar da assistência divina. E assim quero crer.

À propósito: aqueles que não residem em Lajeado, o convite para conhecer.

* Crônica no A Hora, Opinião e Região dos Vales.

2 comentários:

serjao disse...

Me parece que o nome da Matriz e Santo "Ignacio" de Loyolla, nao "Antonio".

JORGE LOEFFLER .'. disse...

Laura, lady Laura!
És fantástica e sempre me surpreendes. Tua cultura é fantástica. Se quiseres ganhar muito dinheiro, muito dinheiro mesmo, me avisa que te indico o caminho. Como és muito inteligente já deves perceber no que estou pensando.