Por ocasião da 22ª Bienal Internacional do Livro, em São
Paulo, a oportunidade de assistir ao bate-papo com o escritor Cristóvão Trezza,
autor de “O Filho Eterno”. Bem bacana.
Como é bom ouvir alguém, com estofo, dar credibilidade as
nossas mesmas crenças.
Na ocasião, Tezza disse que o leitor traz consigo diversas
referências culturais no momento em que lê um livro. E por isso, as diferentes
interpretações sobre uma mesma história. Assim, um crítico mascarado, um
erudito de peruca e uma pessoa comum como você e eu, vamos ler de diferentes
maneiras o mesmo livro.
Então, imagino que os leitores de Paulo Coelho ou JK Rowling
não são os mesmos que lêem Dalton Trevisan, Rubem Fonseca ou Clarice Lispector.
Preconceito meu?
Minha tendência é crer que os “valores” de compreensão de
mundo – e nesse caso, a literatura -
seja diferente para o leitor de Nelson
Rodrigues ou aquele não lê nada ou muito pouco.
A verdade é quando a gente escreve – crônica, conto ou
romance – o primeiro leitor é a gente mesmo. E como tal, o primeiro agente de
censura. Terrível, terrível. Se, escrevinhadora de província, pior ainda.
Você encontra o vulgo escritor na esquina e o “descasca” ali
mesmo, sob o poste. Até a família do escritor desconfia das referências que
habitam a nebulosa fantasiosa do seu integrante vulgo literato.
Na Bienal também presenciei a emoção de Márcia Tilburi ao
referir-se a reação da própria família para com um dos seus livros. Eles não
gostaram nada e só a irmã entendeu o cerne e as entrelinhas de “Magnólia”. A
escritora confirmou o que eu desconfiava: pode-se economizar 40 anos de análise
escrevendo. E o melhor, “sem precisar ‘matar’ ninguém”, como a própria filósofa
assegurou.
É difícil para o leitor fazer a distinção entre o escritor e
o narrador da historia ou da ação dos seus personagens. Nem tudo é racional,
mas circunstancial. Deem por conta da imaginação exagerada do escritor.
Também andei lendo que escritores escrevem para se ver livre
do que sabem, mas principalmente, do que não sabem.
E assim, depois de esvaziado o estoque da imaginação, tudo
limpinho nos mais íntimos cantos da alma, pode-se aos poucos encher de novo.
Infectar com incertezas e ambigüidades.
* * *
Tempo de finados. Fique bem.
Saudades não é dor, é compreensão de uma vida finita.
*
Minha crônica jornais A Hora, de Lajeado e Opinião,
de Encantado.
Um comentário:
Laura
No fim das contas , a gente escreve mesmo é prá si próprio..
Uns lêem e gostam e não lhes serve outros nem isso e no fim somos nós os leitores de nós próprios apenas , pois só nós mesmos nos entendemos ás vezes..
Abç !
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