sábado, 3 de novembro de 2012

SOMOS O QUE LEMOS, SOMOS O QUE ESCREVEMOS


Por ocasião da 22ª Bienal Internacional do Livro, em São Paulo, a oportunidade de assistir ao bate-papo com o escritor Cristóvão Trezza, autor de “O Filho Eterno”. Bem bacana.

Como é bom ouvir alguém, com estofo, dar credibilidade as nossas mesmas crenças.
Na ocasião, Tezza disse que o leitor traz consigo diversas referências culturais no momento em que lê um livro. E por isso, as diferentes interpretações sobre uma mesma história. Assim, um crítico mascarado, um erudito de peruca e uma pessoa comum como você e eu, vamos ler de diferentes maneiras o mesmo livro.

Então, imagino que os leitores de Paulo Coelho ou JK Rowling não são os mesmos que lêem Dalton Trevisan, Rubem Fonseca ou Clarice Lispector. Preconceito meu?

Minha tendência é crer que os “valores” de compreensão de mundo – e  nesse caso, a literatura - seja diferente para o leitor de  Nelson Rodrigues ou aquele não lê nada ou muito pouco.

A verdade é quando a gente escreve – crônica, conto ou romance – o primeiro leitor é a gente mesmo. E como tal, o primeiro agente de censura. Terrível, terrível. Se, escrevinhadora de província, pior ainda.

Você encontra o vulgo escritor na esquina e o “descasca” ali mesmo, sob o poste. Até a família do escritor desconfia das referências que habitam a nebulosa fantasiosa do seu integrante vulgo literato.

Na Bienal também presenciei a emoção de Márcia Tilburi ao referir-se a reação da própria família para com um dos seus livros. Eles não gostaram nada e só a irmã entendeu o cerne e as entrelinhas de “Magnólia”. A escritora confirmou o que eu desconfiava: pode-se economizar 40 anos de análise escrevendo. E o melhor, “sem precisar ‘matar’ ninguém”, como a própria filósofa assegurou.

É difícil para o leitor fazer a distinção entre o escritor e o narrador da historia ou da ação dos seus personagens. Nem tudo é racional, mas circunstancial. Deem por conta da imaginação exagerada do escritor.

Também andei lendo que escritores escrevem para se ver livre do que sabem, mas principalmente, do que não sabem. 

E assim, depois de esvaziado o estoque da imaginação, tudo limpinho nos mais íntimos cantos da alma, pode-se aos poucos encher de novo.
Infectar com incertezas e ambigüidades.

* * *
Tempo de finados. Fique bem.
Saudades não é dor, é compreensão de uma vida finita.


* Minha crônica jornais A Hora, de Lajeado e Opinião, de Encantado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Laura

No fim das contas , a gente escreve mesmo é prá si próprio..
Uns lêem e gostam e não lhes serve outros nem isso e no fim somos nós os leitores de nós próprios apenas , pois só nós mesmos nos entendemos ás vezes..

Abç !