terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A BALADA MORTAL



Ainda tristeza infinita. Dor. 
Ainda indignação. Raiva.
Uma mistura de sentimentos enquanto acompanhava a cobertura jornalística da tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, no último domingo.

Os gaúchos acordaram assustados e aos poucos foram tomando conhecimento do horror que se abateu na cidade universitária.
Em nossa região, entre as vítimas, uma estudante de Paverama, que cursava Medicina Veterinária. Um rapaz de Arroio do Meio, ferido. 

Imagens macabras circulam na internet e chocam. 
Um só pensamento nos assalta: o mesmo poderia ter acontecido com alguém da nossa família, com nossos amigos que poderiam estar lá no momento dessa balada mortal. Minha profunda solidariedade às famílias enlutadas.

Mas, essa tragédia tem nome e sobrenome: cultura da irresponsabilidade.

Lembro do incêndio na boate Cromagñón, em Buenos Aires, em dez de 2005, quando morreram 194 pessoas.  
O que aconteceu depois? 
Os seis músicos que se apresentaram na boate foram acusados de "incêndio culposo seguido de morte" e "uso incentivado de pirotecnia": sete anos de prisão. 
Quanto ao prefeito, um impeachment por responsabilidade política na tragédia. 

No fim apuraram: corrupção entre os fiscais de casas noturnas que receberam propina dos proprietários. 
Sobre isso, o jornalista lajeadense Flavio Tavares foi o único a tocar no assunto, na ZH que circulou ontem.

Corrijam-me se estou errada: cada prefeitura tem um setor de engenharia que deve aprovar projetos de segurança baseado no plano de prevenção de combate a incêndio (ppci) que o corpo de bombeiros exige através de uma orientação técnica (sigpi).
O que acaba acontecendo na real? 
Qualquer um pode executar esse projeto sem ART (anotação de responsabilidade técnica) do CREA.

Essa briga da Engenharia vem desde 1998 quando o governo Brito determinou através da lei que quem manda no fogo no INTERIOR do Rio Grande do Sul são os bombeiros. Na capital,  bombeiros e prefeitura, que juntos expedem o alvará de funcionamento. 
Nas cidades do interior, apenas os bombeiros...

Todos os anos as boates precisam renovar seus alvarás na prefeitura de sua cidade. 
E para renovar elas também precisam passar pelo Corpo de Bombeiros.  

Disseram que o da boate Kiss estava vencido desde agosto de 2012. Quem fez vista grossa?  
Ouço em uma emissora de radio, vejo na televisão, que um dos estudantes tentou usar um extintor e ele estava vencido.
Quem deveria fiscalizar e punir isso? 
Também o CREA. Eles tem fiscais para isso.

Com tanta corrupção nesse país não é difícil deduzir o que muitas vezes acontece. Ou como escreve Tavares: 

“Em Santa Maria, agora tudo se juntou - sanha de lucro fácil, desídia e irresponsabilidade de donos de boate alem da fiscalização carcomida pelo desleixo ou pelo suborno.”

O saldo irresponsável: mais de 230 jovens universitários mortos.

É apenas um alerta a festas e boates que funcionam na região do Vale do Taquari sem a mínima condição.
Que nunca precisemos escutar por radio uma lista de nomes de vítimas de tragédia promovidas pela ganância e ignorância do ser humano. 
Porque das revoltas da natureza, a discussão é outra.



Um comentário:

Anônimo disse...

Segundo o perito, que entrou logo após os bombeiros liberarem o local, com duas ou três olhadas ele disse que aquilo ali não era um ambiente para festa e sim um abatedouro...