Ainda tristeza infinita. Dor.
Ainda indignação. Raiva.
Uma mistura de sentimentos enquanto acompanhava a cobertura
jornalística da tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, no último domingo.
Os gaúchos acordaram assustados e aos poucos foram tomando
conhecimento do horror que se abateu na cidade universitária.
Em nossa região, entre as vítimas, uma estudante de
Paverama, que cursava Medicina Veterinária. Um rapaz de Arroio do Meio, ferido.
Imagens macabras circulam na internet e chocam.
Um só pensamento nos assalta: o mesmo
poderia ter acontecido com alguém da nossa família, com nossos amigos que
poderiam estar lá no momento dessa balada mortal. Minha profunda solidariedade
às famílias enlutadas.
Mas, essa tragédia tem nome e sobrenome: cultura da
irresponsabilidade.
Lembro do incêndio na boate Cromagñón, em Buenos Aires, em
dez de 2005, quando morreram 194 pessoas.
O que aconteceu depois?
Os seis músicos que se
apresentaram na boate foram acusados de "incêndio culposo seguido de
morte" e "uso incentivado de pirotecnia": sete anos de prisão.
Quanto ao prefeito, um impeachment por responsabilidade política na
tragédia.
No fim apuraram: corrupção entre os fiscais de casas noturnas que
receberam propina dos proprietários.
Sobre isso, o jornalista lajeadense
Flavio Tavares foi o único a tocar no assunto, na ZH que
circulou ontem.
Corrijam-me se estou errada: cada prefeitura tem um setor de
engenharia que deve aprovar projetos de segurança baseado no plano de prevenção
de combate a incêndio (ppci) que o corpo de bombeiros exige através de uma
orientação técnica (sigpi).
O que acaba acontecendo na real?
O que acaba acontecendo na real?
Qualquer um pode executar esse projeto sem ART
(anotação de responsabilidade técnica) do CREA.
Nas cidades do interior, apenas os bombeiros...
Todos os anos as boates precisam renovar seus alvarás na
prefeitura de sua cidade.
E para renovar elas também precisam passar pelo Corpo
de Bombeiros.
Disseram que o da boate
Kiss estava vencido desde agosto de 2012. Quem fez vista grossa?
Ouço em uma emissora de radio, vejo na televisão,
que um dos estudantes tentou usar um extintor e ele estava vencido.
Quem deveria fiscalizar e punir isso?
Também o CREA. Eles
tem fiscais para isso.
Com tanta corrupção nesse país não é difícil deduzir o que
muitas vezes acontece. Ou como escreve Tavares:
“Em Santa Maria, agora tudo se
juntou - sanha de lucro fácil, desídia e irresponsabilidade de donos de boate
alem da fiscalização carcomida pelo desleixo ou pelo suborno.”
O saldo irresponsável: mais de 230 jovens universitários mortos.
É apenas um alerta a festas e boates que funcionam na região
do Vale do Taquari sem a mínima condição.
Que nunca precisemos escutar por radio uma lista de nomes de
vítimas de tragédia promovidas pela ganância e ignorância do ser humano.
Porque
das revoltas da natureza, a discussão é outra.
Um comentário:
Segundo o perito, que entrou logo após os bombeiros liberarem o local, com duas ou três olhadas ele disse que aquilo ali não era um ambiente para festa e sim um abatedouro...
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