- Silmara! Ô Silmara...
- Credo, Zileide... Gritaria nesse muro de manhã cedo?
- Óia o mate..
- E a semana?
- Si levando... Tô com as costela estropiada.
- Di tanto lavá, né?
- Só podi...
- É.
- Eu também. De tanto juntar farinha do chão.
- Ué...
- A patroa passou ontem na padaria do super e mi mandou juntá a farinha e botá na massa. Não é pra desperdiçar nada, nadinha.
- Por isso que rico é rico.
- Nem me fala. O patrão da Creidi, cheio dos oros, corta ele mesmo a grama de toda aquela casarona. Prefere isso do que dá emprego pros otros.
- Por isso que rico é rico. Eles popa em tudo e nunca dão gorja, sabia?
- Sabia. Já trabalhei na pizzaria do seu João.
- Essa semana, o véio foi no super e troxi arface. Tinha cobrinha nas folha.
- Credo, Sil!
- Zileide, tô pelas tabela... Não guento mais o Fininho. Ontem peguei aquela peste matando aula de novo, mas dei um varaço... e aí botei de castigo embaixo da escada e olhei bem nos oio dele e disse: daqui tu não mi sai, nem morto, nem pra bebe água, nem pra mijá, guri de merda. Tu vai aprendê no tranco, disgranido.
- Óia Silmara... Vai que o piá chama o Conselho Tutelar e ti fódi.
- Que conselho? Tô por aqui com essa gente. Os fio não querem estudar, então vai trabaiá, fica de farra por aí, se metendo em gandaia, daqui a pouco tão metido nas drogas. Antigamente que era bão.
- Mas ele só tem onze anos, Silmara...
- E daí? Desde quando o trabalho feiz mal pra alguém? Comecei cedo, o Omar também. Com dez anos ajudava o pai nas construção. Agora com essas lei, a gurizada fica vadiando, não estuda, nem trabaia. Um desespero pros pai. Tenha santa paciência, Zi.
- Ai, nem sei.... Ainda bem qui eu não tenho fio.
- Só incomodam.
- É. Umas peste.
sábado, 27 de março de 2010
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