Olha a coincidência: a solidão na era do amor virtual, um tema das cidades grandes, escreve Gisele Teixeira no seu blog recheado de dicas porteñas.
A solidão em tempos de relacionamentos virtuais, parece metáfora. Ou algo que beira o surrealismo. Mas não. Assim como não é mérito de cidades grandes. Aqui na colônia, também acontece.
No filme que ainda não assisti, “a história é contada por Martin, um fóbico buscando readaptar-se ao mundo, e Mariana, recém saída de um relacionamento. Ambos são vizinhos, vivem em Buenos Aires, na mesma rua, na mesma quadra, mas nunca se encontram.
A arquitetura aparece como terceiro protagonista, como vilão e como metáfora de isolamento e falta de comunicação.
Logo no início o personagem masculino diz o seguinte: “estou convencido de que as separações, os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais de cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a apatia, a depressão, o suicídio, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, as contraturas, a inseguridade, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo são responsabilidades dos arquitetos e da construção civil. Destes males, salvo o suicídio, padeço de todos.” - conforme Gisele.
(ahã, ahã... também acho. Os “órgãos construtores” deveriam se posicionar por mais qualidade de vida nas cidades e não só pensar em encher os bolsos na parceria com os prefeitos e secretários de obra que existem por aí.)
“Os dois personagens moram em “monoambientes”, as nossas conhecidas quitinetes, e tomam a decisão de abrir janelas nas paredes laterais de seus apartamentos para ganhar um pouco mais de luz.
Isso, aqui na Argentina, não é permitido.
De acordo com o Código Civil, as medianeras (como são chamadas as paredes cegas que dão para o prédio vizinho) são intocáveis, pelo menos no papel.
A justificativa é a garantia da privacidade. Janelas, somente na frente ou para o fundo.
Para cumprir a lei, muitos apartamentos viram grandes poços escuros.
Pelo menos até que um morador se rebele e resolva abrir seu buraquinho. E o outro também. E o outro também. Assim a cidade vai ganhando paredões salpicados de pequenas janelas caóticas, cada um de um tamanho e formato. As medianeiras também são fonte de milhares de brigas judiciais.”
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