Li Edelkoort
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O que tem em comum uma dona de casa, um publicitário, um advogado e uma jornalista? Talvez, um olhar inquieto e sensível ao cotidiano. E à arte.
Você sabe que as pessoas se encontram por aí em bares, nas praças, em reuniões, mas em frente ao espelho d’alma, se engole seco o estranhamento da solidão. Do vazio. Da falta de objetivo. De tormentos irreconciliáveis como o abandono, como a rejeição.
Eu me pergunto se a solidão não seria um defeito egocêntrico? Uma crosta individualista que idealizamos? Um estado psicológico entre o neurótico e o descrente. Um não falar e um não ouvir em cada um daqueles que convivem sob o mesmo teto.
Todo solitário é um egoísta. Mas, também, nada como a solidão para a gente se ver como se é realmente: criaturas limitadas. Ou não? Cruzes, que tema vasto.2 Quando a gente se debruça sobre a solidão, percebemos o quanto essa privação faz parte da condição humana: dividimos os mesmos lençóis, dividimos a mesa posta, dividimos o sofá em frente a televisão, e no entanto? Entramos mudos, saímos calados. E surdos. A total falta de comunicação, de sintonia entre os pares. E ímpares.
Às vezes me pergunto se não será o nosso melhor amigo o Facebook?
Ou o telefone celular? Ou o fogão?
A impressão é que as relações, agora virtuais, estão nos cercando sem o afago legítimo do abraço. Sem o cara a cara receptivo às nossas preocupações e alegrias. Sem ninguém para repartir os temperos maravilhosos que só você sabe fazer.
Passamos um pelo outro na rua e fugimos do encontro, sequer nos cumprimentamos, porque não nos reconhecemos. O medo do gostar, o medo do sofrer, o medo do prazer – à distância. Seria tudo mais civilizado no ermo do Facebook? Na distância do celular?
3 Durante dois meses ensaiamos a nossa perspectiva de isolamento, que resultou em “Exercícios de Solidão”. Durante 50 minutos no palco buscamos criar um vínculo com o espectador através da musica, do teatro e da literatura.
Não é incoerente? Justo a solidão que não busca vínculo nenhum e com ninguém?
Sabemos bem que essa vida é transição. É ponte. Ciclos. Chegamos sozinhos até ela. E logo partimos igualmente na mais absoluta ................
Caso você ainda não assistiu “Exercícios de Solidão” no Espazzo Livraria Pub, em Lajeado, passe por lá nesta segunda-feira, 24, às 20h15m. Saia de sua confortável solidão e se misture com a nossa. Prometemos não interagir.
E se você mora em Encantado, Estrela, Teutônia, Roca, Cruzeiro do Sul, nos convide. Vamos trocar solidões.
* Minha crônica semanal no Opinião de Encantado e A Hora, de Lajeado.
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