Sábado de tarde sem maiores horizontes.
Por telefone: vamos descer o rio?
Nem vacilei e antes de sair feliz com o inusitado convite, passei a mão na minha digital.
Do Porto de Estrela, outra vista da cidade - ou outro ponto de vista de Lajeado?
É importante se distanciar do problema para compreendê-lo na sua extensão – lembro o alerta de uma psicóloga. Quando estamos muito envolvidos, também cegos ao que se mostra escancarado para quem vê de fora – de fora do turbilhão.
Observo a cidade deste lado da margem do rio e suspiro - uma pena que não estávamos conectados a uma trilha sonora: Jorge Drexler naquele momento seria mais que perfeito.
Já naveguei de transatlântico no mar, de caiaque na lagoa, de bacia na enchente dos meus onze anos, mas descer o rio Taquari por uma draga de areia foi um dos passeios mais bonitos dos últimos tempos. As correntes tranqüilas de água trazendo dejetos da natureza e do homem atraem minha desesperança por uma humanidade mais consciente.
Dentro do barco ando de um lado para outro registrando tudo que vejo com olhos de criança, novamente. Apesar da aflição pelo descaso do homem, a alegria da aventura.
Não é que a tristeza também pode ser bela? O potencial do rio é visível. Uma riqueza incalculável ainda definirá nosso destino ou pelo menos das gerações futuras: quantas cidades você conhece que contam com um rio nos fundos do seu quintal?
É provedor: alimenta o homem com suas piavas e pintados. É berço das garças e outras aves sobreviventes. Regula os humores climáticos, irriga as plantações. Abra a torneira, acenda a luz – não precisa dizer mais nada, não é?
No barco converso com Luis Marcos, o contramestre, enquanto a chata de areia desliza suave pelas águas turvas tal qual nossa consciência ambiental. Luiz trabalha em barcos desde os treze anos: “do Espírito Santo para cá conheço tudo.” Nesse tudo imaginário cabe âncoras, tombadilhos, óleo, águas, portos e mulheres. E todas as engrenagens liquefeitas e náuticas. Há oito meses no Taquari, antes Luiz operava a dragagem nos berços de atracação do porto de Paranaguá, pertinho de Curitiba.
Agora, três vezes por semana desce o rio até as barrancas do Jacuí. Suspiro, eita belezura...
Mas naquela tarde nublada vamos só até a barragem em Bom Retiro.
Seriam duas horas impactantes.
Ora, margens judiadas, sem raízes para conter o desmoronamento das barrancas - e ainda tem gente que é contra o tal corredor ecológico. Parece que não se dão conta do tempo perdido.
Ora, uma mata ciliar resistente à natureza e ao homem, uma ou outra árvore se destacando imponente ou florida. Outras vezes uma vegetação que ainda exibe espectros plásticos dependurados nos galhos das árvores como referência ao nosso irracional descaso.
Água é vida – refrão batido. Mas, não é por isso que os pesquisadores com suas lunetas computadorizadas vasculham os céus do universo?
Pelo que sei o homem ainda não bebe petróleo.
* Minha crônica deste findi nos jornais A Hora, de Lajeado e Opinião, de Encantado.
3 comentários:
Gostei de descer o Taquari contigo Laura.
Só falta deixar pra natureza os 30 metros de margem que ficaria mais lindo e o rio mais limpo, drenado de sujeira e terra.
Nosso rio, nossa beleza natural é muito mal aproveitada pro turismo. Tem gente que ainda não viu nossa terrinha desse ponto de vista.
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