Quem a conhece, lembra
muito bem. Anos 80, uma menininha de apenas 9 anos que jogava tênis nas
quadras do Clube Tiro e Caça sob os olhos incentivadores dos pais, Marlene e Osmar (Gaiteiro) Berwig. Dedicada e de personalidade aguerrida, Lisandre Berwig entrou na adolescência
defendendo as cores do Clube, por vários anos.
Mais tarde se
transferiu para a Sogipa, em Porto Alegre, onde foi escolhida a Atleta do Ano, mantendo o título de campeã gaúcha por quatro vezes consecutivas. Sendo que na última temporada se classificaria em sétimo lugar no ranking brasileiro. Mas no auge, um susto para
família e amigos: Neki interrompe sua promissora carreira no tênis aos 16 anos. Uma decisão difícil para
ela mesma e para seus fãs. E é por aqui que a gente começa a entrevista: Por que?
“Era a primeira da minha
categoria, mas mesmo assim sabia que faltava algo...
Hoje sou consciente de que faltou
trabalhar o meu lado emocional. Meu treinador tinha seu trabalho voltado
totalmente para a técnica, sem levar em conta a comunicação e a importância de
trabalhar o comportamento e as emoções. Fatores que considero fundamentais para
o desenvolvimento e sucesso de um atleta.”
Fez o que acreditou
que deveria ter feito, mas manteve os vínculos com o esporte até os 25 anos. “Dei aulas de tênis e treinei jogadores para a competição, durante 10
anos.”
O escritor Fernando
Pessoa escreveu certa vez que há um tempo em que é preciso nos livrar das
roupas usadas, já com a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos que nos
levam sempre aos mesmos lugares.
E foi a escolha de
Neki Berwig: trocou as raquetes e mudou a velocidade da bola, aos 27 anos.
O Padel surgiu no
final do século XIX, quando passageiros em alto mar, em navios ingleses,
tentaram adaptar o tênis a uma quadra menor e protegida por telas. Mas foi
um espanhol quem criou as regras e difundiu o esporte na Europa e América.
Neki, 44, conta como foi
essa transição do tênis para o padel:
“Em 1995, minha ex-professora da
ESEF-UFRGS Elisabeth Oliveira (Campeã Brasileira de Tênis), da qual fui
monitora na universidade, me convidou a conhecer o padel. Na época estava um
pouco desvinculada do esporte, estudando Direito. Experimentei e gostei. Pouco
a pouco, a Beti me incentivou para que aprendesse o padel, que me pareceu divertido, intenso e
muito bom de jogar.
Como foi essa época de
padel no Brasil?
“O esporte estava iniciando no
Brasil. Os torneios estaduais eram realizados em Porto Alegre, Novo Hamburgo,
Livramento e Pelotas. Fiz parceria com a Beti Oliveira, na época ela com 49
anos e uma fera competindo. Jogamos alguns torneios gaúchos, vencemos e também
um brasileiro, na Bahia. Depois, fui convidada a jogar com uma argentina que
morava no Brasil, quando ficamos líderes do circuito estadual.
Ainda em 1995 fui tricampeã
brasileira com a paulista Patricia Strasser. Então me convocaram para jogar o mundial
em Madrid. Daquele ano até 2001, quando fui morar na Espanha, fui a jogadora
numero 1 do Brasil.”
E a transferência para a Europa?
“Em 2000 comecei a jogar alguns
campeonatos na Espanha com companheiras do Uruguai e da Argentina. Em 2001, fui
convidada pela espanhola Araceli Montero a jogar no Circuito Profissional
Espanhol, considerado o melhor circuito de padel do mundo. Naquele ano fomos a
dupla número 2 do mundo.”
O que é preciso para
obter sucesso em uma parceria esportiva?
“É essencial que as pessoas tenham um
objetivo comum e uma visão parecida daquilo que estão fazendo juntos. Que se
entendam, falem o mesmo idioma. Outros aspectos importantes são o respeito, a
confiança, a comunicação e a autenticidade na relação.
No padel, o conjunto tem que ser muito mais que 1 mais 1. Os 2 tem que ser 1. Durante a minha carreira internacional joguei ao lado de grandes jogadoras como Icíar Montes (5 vezes campeã mundial) e Araceli Monteiro (campeã do mundo), ambas espanholas. Tati Ruiz ( vice-campeã do mundo), uruguaia. Mariana Perez e China Mazzuchi (campeã mundial), ambas argentinas.
No padel, o conjunto tem que ser muito mais que 1 mais 1. Os 2 tem que ser 1. Durante a minha carreira internacional joguei ao lado de grandes jogadoras como Icíar Montes (5 vezes campeã mundial) e Araceli Monteiro (campeã do mundo), ambas espanholas. Tati Ruiz ( vice-campeã do mundo), uruguaia. Mariana Perez e China Mazzuchi (campeã mundial), ambas argentinas.
Durante cinco anos seguidos, Icíar
Montes e eu fomos a dupla número 1 do mundo. Foram mais de 150 jogos sem
derrotas. E durante o tempo que formamos dupla perdemos apenas 6 jogos, sendo
que 3 por lesão.”
Busco em Pessoa a continuidade de seus versos:
“É o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado,
para sempre, à margem de nós mesmos.”
A hora de parar, a
hora de mudar outra vez. Um pouco sobre essa virada.
“Entendi que era hora de parar de
competir no final de 2008. Já pensava em novos desafios e aspirava passar a
minha experiência para as pessoas, para que, através do esporte compreendessem
e desenvolvessem o seu potencial, equilibrando as emoções, pensamentos e
obtendo resultados positivos na sua vida pessoal e profissional.
Segui fazendo clínicas, exibições
e dando aulas particulares de padel e comecei a treinar jogadoras que competem
no Circuito Profissional de padel. Hoje sou Master em Programação
Neolinguística, quando estudei no Instituto Potencial Humano, em Madrid e onde
me formei em Coaching.”
E daqui pra frente?
“Continuo atualmente com a minha
vida profissional totalmente vinculada ao padel: treino e acompanho em torneios
as jogadoras do circuito profissional. Dou aulas particulares para grupos; faço
sessões de coaching pessoal e esportivo; palestras e, junto com minha ex-parceira do circuito
profissional, Iciar Montes (que ainda compete no Circuito Profissional),
promovo workshops, quando são abordados aspectos técnicos e tácticos do esporte
e também dividimos com os participantes nossa experiência como jogadoras
profissionais, a formação de uma dupla e a importância do trabalho em equipe.”
E o projeto MindyourMind
que descobri por acaso na internet e quase caí dura quando vi que tinha uma
lajeadense por trás e muito minha conhecida?
“O MindyourMind visa o
desenvolvimento das pessoas através do esporte.
Na realidade este projeto é fruto
de 29 anos de trabalho. No tênis, 10 anos, e no padel, 19 anos.
Através da
minha experiência como jogadora profissional de padel tive a oportunidade de
descobrir quais eram os meus medos e os meus talentos na hora de competir. Com
muito trabalho e perseverança aprendi a jogar apoiada nas minhas fortalezas, na
alegria, e também confiar nas minhas qualidades.
Fiz um trabalho profundo na minha
autoestima que apliquei na quadra quando competia e consequentemente na minha
vida profissional e pessoal. Tenho um sentimento de agradecimento enorme ao
esporte. Através dele aprendi a conhecer-me, a cuidar-me, a valorizar-me. Se o
jogador, o atleta consegue transcender o ego e focar o seu trabalho em se
conhecer, saber quais são os seus recursos, qualidades, fortalezas e também as
suas dificuldades, seus medos. Seguramente, ele conseguira jogar com confiança
e determinação e em conseqüência os bons resultados aparecerão.
Afirmo isso porque comigo
funcionou 100%.”
Espanha?
“No momento meu foco de trabalho
está na Espanha, onde consolidei a metodologia que desenvolvi; quando venho
para o Brasil meu objetivo é descansar e encontrar as pessoas queridas e curtir
esta cidade onde estão minhas raízes, onde viveram meus pais. Tenho no meu
planejamento expandir meus conhecimentos para o Brasil, devo iniciar a partir
de 2013.”
Lajeado?
“Tenho muito carinho por Lajeado.
Trabalhei durante muitos anos no Clube Tiro e Caça como professora de tênis, na
época em que meu querido amigo Bisa, do Darci Giovanella, do Jua Enger, do Dr.
Henrique Wiehe e de tantos outros que me apoiaram. Dirigia a escola de tênis,
dei aula para muitas pessoas daqui. Guardo esta experiência no meu coração.
Hoje, quando venho para Lajeado, em dezembro, para visitar os meus irmãos, recebo
muitos abraços dos meus ex-alunos.”
Neki, Neco, Cat e Neca Berwig
4 comentários:
Parabéns pela entrevista. Iluminou o blog. Lembro da Neky, no Castelinho, de suas vitórias no tênis, do contínuo acompanhamento e incentivo dos pais. Desconhecia que se dedicara ao padel. Pela coragem e persistência em assumir caminhos, mesmo mudando de rota, merece a admiração de todos. Traz novas entrevistas de lajeadenses que deram certo, aventurando-se profissionalmente, pelo mundo!
Parabéns pela entrevista!
A Neky foi minha professora de tenis e me fez aprender e respeitar o esporte.
Além disso me influenciou em outro hobby que levo comigo até hj, as motocicletas.
Voltando de carona das aulas de tenis de moto com a Neky foi umas das minhas influências no gosto pelas duas rodas!!!
Que estória de vida linda e ela ainda tão jovem
Ler a entrevista me emocionou... foi com a Neki que aprendi a jogar tênis... durante alguns anos fui aluno dela no Tiro e Caça... a Neki é daquelas pessoas que não tem como não gostar... divertida, alegre, competitiva... só tenho a agradecê-lá, pois, naquela época, durante a minha adolescência, o tênis foi fundamental para moldar minha personalidade e, obviamente, a Neki fez parte disso... um grande abraço minha eterna Profe...
Luís Alberto Bergamaschi (o Mano, como ela chamava)
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