quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

NEKI BERWIG: LAJEADO-MADRID




Quem a conhece, lembra muito bem. Anos 80,  uma menininha de apenas 9 anos que jogava tênis nas quadras do Clube Tiro e Caça sob os olhos incentivadores dos pais, Marlene e Osmar (Gaiteiro) Berwig. Dedicada e de personalidade aguerrida, Lisandre Berwig entrou na adolescência defendendo as cores do Clube, por vários anos.

Mais tarde se transferiu para a Sogipa, em Porto Alegre, onde foi escolhida a Atleta do Ano, mantendo o título de campeã gaúcha por quatro vezes consecutivas. Sendo que na última temporada se classificaria em sétimo lugar no ranking brasileiro. Mas no auge, um susto para família e amigos: Neki  interrompe sua promissora carreira no tênis aos 16 anos. Uma decisão difícil para ela mesma e para seus fãs. E é por aqui que a gente começa a entrevista: Por que?

“Era a primeira da minha categoria, mas mesmo assim sabia que faltava algo...
Hoje sou consciente de que faltou trabalhar o meu lado emocional. Meu treinador tinha seu trabalho voltado totalmente para a técnica, sem levar em conta a comunicação e a importância de trabalhar o comportamento e as emoções. Fatores que considero fundamentais para o desenvolvimento e sucesso de um atleta.”


 Fez o que acreditou que deveria ter feito, mas manteve os vínculos com o esporte até os 25 anos. “Dei aulas de tênis e treinei jogadores para a competição, durante 10 anos.”

O escritor Fernando Pessoa escreveu certa vez que há um tempo em que é preciso nos livrar das roupas usadas, já com a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
E foi a escolha de Neki Berwig: trocou as raquetes e mudou a velocidade da bola, aos 27 anos.

O Padel surgiu no final do século XIX, quando passageiros em alto mar, em navios  ingleses, tentaram adaptar o tênis a uma quadra menor e protegida por telas. Mas foi um espanhol quem criou as regras e difundiu o esporte na Europa e América.


Neki, 44, conta como foi essa transição do tênis para o padel:
“Em 1995, minha ex-professora da ESEF-UFRGS Elisabeth Oliveira (Campeã Brasileira de Tênis), da qual fui monitora na universidade, me convidou a conhecer o padel. Na época estava um pouco desvinculada do esporte, estudando Direito. Experimentei e gostei. Pouco a pouco, a Beti me incentivou para que aprendesse  o padel, que me pareceu divertido, intenso e muito bom de jogar.

Como foi essa época de padel no Brasil?
“O esporte estava iniciando no Brasil. Os torneios estaduais eram realizados em Porto Alegre, Novo Hamburgo, Livramento e Pelotas. Fiz parceria com a Beti Oliveira, na época ela com 49 anos e uma fera competindo. Jogamos alguns torneios gaúchos, vencemos e também um brasileiro, na Bahia. Depois, fui convidada a jogar com uma argentina que morava no Brasil, quando ficamos líderes do circuito estadual.
Ainda em 1995 fui tricampeã brasileira com a paulista Patricia Strasser. Então me convocaram para jogar o mundial em Madrid. Daquele ano até 2001, quando fui morar na Espanha, fui a jogadora numero 1 do Brasil.”

E a transferência para a Europa?
“Em 2000 comecei a jogar alguns campeonatos na Espanha com companheiras do Uruguai e da Argentina. Em 2001, fui convidada pela espanhola Araceli Montero a jogar no Circuito Profissional Espanhol, considerado o melhor circuito de padel do mundo. Naquele ano fomos a dupla  número 2 do mundo.”

O que é preciso para obter sucesso em uma parceria esportiva?
É essencial que as pessoas tenham um objetivo comum e uma visão parecida daquilo que estão fazendo juntos. Que se entendam, falem o mesmo idioma. Outros aspectos importantes são o respeito, a confiança, a comunicação e a autenticidade na relação.
No padel, o conjunto tem que ser muito mais que 1 mais 1. Os 2 tem que ser 1.
  Durante a minha carreira internacional joguei ao lado de grandes jogadoras como Icíar Montes (5 vezes campeã mundial) e Araceli Monteiro (campeã do mundo), ambas espanholas. Tati Ruiz ( vice-campeã do mundo), uruguaia. Mariana Perez e China Mazzuchi (campeã mundial), ambas argentinas.

Durante cinco anos seguidos, Icíar Montes e eu fomos a dupla número 1 do mundo. Foram mais de 150 jogos sem derrotas. E durante o tempo que formamos dupla perdemos apenas 6 jogos, sendo que 3 por lesão.”

Busco em Pessoa a continuidade de seus versos:
“É o tempo da travessia e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”

A hora de parar, a hora de mudar outra vez. Um pouco sobre essa virada.
“Entendi que era hora de parar de competir no final de 2008. Já pensava em novos desafios e aspirava passar a minha experiência para as pessoas, para que, através do esporte compreendessem e desenvolvessem o seu potencial, equilibrando as emoções, pensamentos e obtendo resultados positivos na sua vida pessoal e profissional. 
Segui fazendo clínicas, exibições e dando aulas particulares de padel e comecei a treinar jogadoras que competem no Circuito Profissional de padel. Hoje sou Master em Programação Neolinguística, quando estudei no Instituto Potencial Humano, em Madrid e onde me formei em Coaching.”

E daqui pra frente?
“Continuo atualmente com a minha vida profissional totalmente vinculada ao padel: treino e acompanho em torneios as jogadoras do circuito profissional. Dou aulas particulares para grupos; faço sessões de coaching pessoal e esportivo; palestras e,  junto com minha ex-parceira do circuito profissional, Iciar Montes (que ainda compete no Circuito Profissional), promovo workshops, quando são abordados aspectos técnicos e tácticos do esporte e também dividimos com os participantes nossa experiência como jogadoras profissionais, a formação de uma dupla e a importância do trabalho em equipe.”


E o projeto MindyourMind que descobri por acaso na internet e quase caí dura quando vi que tinha uma lajeadense por trás e muito minha conhecida?
“O MindyourMind visa o desenvolvimento das pessoas através do esporte.
Na realidade este projeto é fruto de 29 anos de trabalho. No tênis, 10 anos, e no padel, 19 anos. 
Através da minha experiência como jogadora profissional de padel tive a oportunidade de descobrir quais eram os meus medos e os meus talentos na hora de competir. Com muito trabalho e perseverança aprendi a jogar apoiada nas minhas fortalezas, na alegria, e também confiar nas minhas qualidades.

Fiz um trabalho profundo na minha autoestima que apliquei na quadra quando competia e consequentemente na minha vida profissional e pessoal. Tenho um sentimento de agradecimento enorme ao esporte. Através dele aprendi a conhecer-me, a cuidar-me, a valorizar-me. Se o jogador, o atleta consegue transcender o ego e focar o seu trabalho em se conhecer, saber quais são os seus recursos, qualidades, fortalezas e também as suas dificuldades, seus medos. Seguramente, ele conseguira jogar com confiança e determinação e em conseqüência os bons resultados aparecerão.
Afirmo isso porque comigo funcionou 100%.”

 Espanha?
“No momento meu foco de trabalho está na Espanha, onde consolidei a metodologia que desenvolvi; quando venho para o Brasil meu objetivo é descansar e encontrar as pessoas queridas e curtir esta cidade onde estão minhas raízes, onde viveram meus pais. Tenho no meu planejamento expandir meus conhecimentos para o Brasil, devo iniciar a partir de 2013.”

Lajeado?
“Tenho muito carinho por Lajeado. Trabalhei durante muitos anos no Clube Tiro e Caça como professora de tênis, na época em que meu querido amigo Bisa, do Darci Giovanella, do Jua Enger, do Dr. Henrique Wiehe e de tantos outros que me apoiaram. Dirigia a escola de tênis, dei aula para muitas pessoas daqui. Guardo esta experiência no meu coração. 
Neki, Neco, Cat e Neca Berwig

Hoje, quando venho para Lajeado, em dezembro, para visitar os meus irmãos, recebo muitos abraços dos meus ex-alunos.”

4 comentários:

Marisa disse...

Parabéns pela entrevista. Iluminou o blog. Lembro da Neky, no Castelinho, de suas vitórias no tênis, do contínuo acompanhamento e incentivo dos pais. Desconhecia que se dedicara ao padel. Pela coragem e persistência em assumir caminhos, mesmo mudando de rota, merece a admiração de todos. Traz novas entrevistas de lajeadenses que deram certo, aventurando-se profissionalmente, pelo mundo!

Daniel Zart disse...

Parabéns pela entrevista!
A Neky foi minha professora de tenis e me fez aprender e respeitar o esporte.
Além disso me influenciou em outro hobby que levo comigo até hj, as motocicletas.
Voltando de carona das aulas de tenis de moto com a Neky foi umas das minhas influências no gosto pelas duas rodas!!!

ada disse...



Que estória de vida linda e ela ainda tão jovem

Anônimo disse...

Ler a entrevista me emocionou... foi com a Neki que aprendi a jogar tênis... durante alguns anos fui aluno dela no Tiro e Caça... a Neki é daquelas pessoas que não tem como não gostar... divertida, alegre, competitiva... só tenho a agradecê-lá, pois, naquela época, durante a minha adolescência, o tênis foi fundamental para moldar minha personalidade e, obviamente, a Neki fez parte disso... um grande abraço minha eterna Profe...

Luís Alberto Bergamaschi (o Mano, como ela chamava)