“Um rebuliço de surpresa divertida atravessou a sala do cinema berlinense Babylon Mitte quando a senhora na tela começa a conversar em alemão – ainda por cima com traços do dialeto falado no século 19 na extinta região da Pomerânia.
Afinal, os brasileiros não são todos morenos ou negros e o Brasil não é carnaval, futebol e criminalidade?
Os famosos e os duendes da morte se passa, de fato, numa hermética comunidade de imigrantes alemães no Sul do Brasil. Porém esse primeiro longa-metragem de Esmir Filho tem como mérito não apenas manter-se distante de qualquer folclorismo, quer germânico quer tupiniquim.
Com segurança cinematográfica, mas quase en passant, ele consegue – ao falar desse "ur-povoado" de imigrantes – construir uma parábola universal sobre migração, despertar e morte de perspectivas, o anseio por outra vida, estranhamento e exílio.
Para os jovens do local, a única interface possível com o mundo e o século 21 é a tela do computador. Mas há também uma ponte física que leva para fora desse ninho-gaiola. A questão é: atravessá-la ou saltar dela para dentro do rio? Nos últimos tempos, alguns têm optado pela segunda alternativa. E um desertor-sobrevivente acaba de retornar.
A Deutsche Welle entrevistou em Berlim o diretor paulista Esmir Filho (27) e o gaúcho Ismael Caneppele (30), autor do livro autobiográfico seminal e ator na produção da Dezenove Som e Imagens, apresentada com sucesso no festival internacional de cinema Berlinale.
DW: Como foi o caminho de Os famosos e os duendes da morte, do livro para o roteiro do filme e de volta para o livro?
EF: Eu encontrei o Ismael pelo primeiro livro dele, Música para quando as luzes se apagam, que falava sobre a adolescência.
(...)
Quando eu recebi esse livro, falei para o Ismael: "Estou a fim de fazer um filme sobre isso, você me ajuda? Você conhece as coisas da sua cidade [Lajeado, RS], eu vou escrever o roteiro e queria muito estar junto com você para entender mais, eu quero mergulhar nesse seu universo". Só que a nossa parceria foi tão intensa que eu disse: vamos escrever o roteiro juntos.
A região alemã inclui várias cidadezinhas do Vale do Taquari. E o que eu mais gostei foi do que tem muito no livro e no filme, que é esse gap das gerações; como os mais velhos sempre estiveram ali – tem gente, como os avós dele, que nem fala português –, e como os adolescentes estão super antenados com a internet, fazendo coisas, tentando ter uma voz.
É o caso do músico [Nelo Johann] e da menina [Tuane Eggers] do filme.
A cidade do filme é um "não-lugar" que nem nome tem, é a essência de um certo tipo de comunidade, como diz o Esmir, é o retrato do Vale do Taquari.
DW: Ismael, você sente que conseguiu sair desse lugar? Ou um dia poderia estar de volta à ponte?
IC: É louco, porque é como no filme, no livro. Eu tenho tatuada no braço a palavra Geheimnis, que em alemão é segredo, e ao mesmo tempo "gehen Heim", voltar para casa. Acho que a gente sempre vai estar voltando para casa – sempre.
Não existe sair, partir, estar no mundo: a casa é o lugar para onde sempre se vai voltar. Então a ponte é um lugar que eu vou visitar muitas vezes, e onde muitas vezes eu vou morrer,ainda."
Toda vez que volto [para Lajeado], sinto que preciso sair de lá, que a cidade está se transformando, as pessoas antigas estão morrendo, o alemão está indo embora do diálogo.
É um vazio absurdo, é uma cidade de concreto e asfalto, horrível. É um assassinato, o que estão fazendo.
(...)
Foi bom termos filmado lá, é um documento para que daqui a dez anos as pessoas vejam o que essa cidade foi, como ela foi bonita, como tinha pessoas interessantes.
E como se pode aniquilar, matar toda uma geração, por incompetência e por ganância.”
Na íntegra: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5269704,00.html
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
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7 comentários:
Ismael pra prefeito! e não se fala mais nisso.
Laura, falando em politico tu temqe falar, fazer uma reportagem ai no teu blog sobre esse caso do marcio klaus e a testemunha dele, saiu no informativo hj.só cuidado com o que tu falar se não ele manda atirar na tua orelha,rsrs. bjs
Simplesmente resumiu! Já tem meu voto.
Sou a favor de promover algumas sessões de cinema aqui em Lajeado com esse filme. Secretaria da cultura promoveria algo de classe, ao menos uma vez.
a única classe desse secretário é bunda de mulher bagaceira!
preconceito! e se fosse bunda de mulher não bagaceira?
naum vejo a hora de ver esse filme. dizem que só em março eh só em poa. naum posso acredita. eh nois na fita.
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