segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

UM ÍCONE PASSOU POR AQUI...

“No dia 25 de abril passado, durante o espetáculo comemorativo do movimento de 25 de abril de 1974 – que livrou o país de meio século de salazarismo –, o Coliseu de Lisboa lotado cantou um hino do poeta Zeca Afonso, a voz da Revolução dos Cravos, com o nome “Alípio de Freitas”:

Baía da Guanabara
Santa Cruz na Fortaleza
Está preso Alípio de Freitas
Homem de grande firmeza.
Diz Alípio à nossa gente:
Quero que saibam aí
Que no Brasil já morreram
Na tortura mais de mil.
Na prisão de Tiradentes
Depois da greve de fome
Em mais de cinco masmorras
Não há tortura que o dome.


Entre 1964 e 1981, o padre Alípio de Freitas foi encarcerado, torturado e transferido 16 vezes de prisão em prisão pelo Brasil.

Perdeu a nacionalidade portuguesa, a brasileira e o direito de lecionar.

Quase enlouqueceu. Preso político, organizou grupos na resistência com seus companheiros e com os presos comuns que conviviam com eles nas celas.

Foi essa mistura que lhe custou a fama de ser o “pai” de duas organizações criminosas que hoje aterrorizam o Brasil, o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital.

Hoje, aos 80 anos, ele ajuda imigrantes brasileiros em dificuldades em Portugal.”

"Alípio participou com Francisco Julião dos primórdios das Ligas Camponesas e foi seu último secretário-geral, em 1964.

Foi ativista nas campanhas de Miguel Arraes no Recife, amigo de fé de Paulo Freire no movimento pela alfabetização, assíduo no lendário Centro Popular de Cultura, o CPC.

Soube que não vestiria mais a batina quando, às vésperas do golpe, o clero apoiou a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, nas ruas de São Paulo.

Professor de história expulso da Universidade de Brasília, jornalista privado da carteira pelo sindicato, padre Alípio exilou-se no México. Mas sempre voltava ao Brasil, clandestino. Foi Mário, Guilherme, Carlos e tantos outros que, ao surgir um “subversivo” novo na parada, era ele que os militares apertavam, por precaução, na cadeia."



"Casou-se três vezes, teve uma filha, viu vários companheiros morrer, salvou outros da ordem de lamber paredes, do suicídio, do medo, da loucura.
Foi condenado em dois tribunais a 150 anos de prisão; cumpriu dez.
Ao ser solto, era apátrida.
Começou ali a luta para conseguir de volta a cidadania brasileira, retirada por uma auditoria da Marinha.
Sem emprego, foi camelô no Largo de São Francisco, no Rio de Janeiro, até que, passando por ali, o jornalista Hélio Fernandes o reconheceu vendendo camisas e deu-lhe emprego na Tribuna da Imprensa.
Por fim, cansado, foi embora para Portugal."

Revista Época de 20/03/2009



* Alípio de Freitas veio para o Fórum Social em Porto Alegre. Depois, pela rodovia Leonel de Moura Brizola, chegou a Lajeado ontem, no domingo, para um churrasco, onde ficou até às 19h da noite com amigos.

* Nada mais jornalístico do que sentar ao seu lado e ouvir a história de quem a viveu realmente...

Mas perdi essa. Avisaram muito tarde...


3 comentários:

Renatinha Breier Porto disse...

Oi, Laurinha, lindona... há algum tempo te acompanho, de longe por aqui...agora tb entrei para este mundo e quis logo te seguir, pois adoro tuas colocações e reclamações bem "laureanas"... sempre fostes assim, crítica e te admiro por isso... adorei também a ideia do varal... se eu achar uma foto que eu mesma tirei em um incêndio, te envio, pois o varal chamuscado, foi a única coisa que sobrou... saudades, maluquete... ainda tenho o casaquinho marrom com gola de pele que me destes...uso bastante... e feliz... beijos enormes,

tua seguidora....

Fritz disse...

nossa imprensa é uma piada. vejam que nada é comentado sobre os CHILE onde os vermelhos levaram umas CHINELADAS. Sempre arrumando desculpas no passado, mas gastando tudo que podem no presente.

JORGE LOEFFLER .'. disse...

Lady Laura lugar belíssimo e fotografia tomada da margem onde estávamos quando o Gui partiu. Lindo e ao mesmo tempo muito triste.