Photo by Carolina Leipnitz
Pronto, pronto, não precisa chorar. Tudo passa.
Natal, férias, carnaval.
Sim, as aulas começaram para valer, pronto, pronto... não chore, pô!
Que bom que você ainda pode freqüentar uma escola.
Quantos não usufruem dessa mesma chance?
Escravizados pela miséria, alienados pela distância, não tem força para aprender, não tem opção para estudar. O Brasil é grande e os poderes, corruptos.
Então, você só precisa de uma condução para chegar na porta da escola. E, com sorte, uma professora motivada o espera e os colegas, saudosos e curiosos:
- E as férias, meu?
- Nada – você dirá, entediado.
Mas nada mesmo?
Então foi nada de computador, nada de videogame, nada de televisão?
Sim, estou provocando.
Em tempo de mundo virtual é cada vez mais difícil não fazer nada.
Não se subestime. E não faça do seu universo um dormitório tecnológico.
Você reclama porque nas suas férias você não foi à praia?
Ora, milhares de brasileiros não foram à praia. E outro milhar trabalhou duro na beira da praia.
Você ainda tem mangueira, lagoa, rio, açudes nas redondezas.
Outros, sequer água.
Pense nisso.
DE PERNAS PRA CIMA
Saiba que trivialidades fazem parte da matéria: ócio criativo.
E “nada” pode significar exatamente isso. Mas fazer absolutamente “nada” exige um desprendimento oriental, um treinamento budista. Não é para qualquer um.
O nosso “nada” sugere apenas desligar o piloto automático e vivenciar outras situações.
Segue listinha básica para exercitar o ócio criativo:
- lavar suas próprias roupas como antigamente. No muque. Dependurar no varal. Com esse calorzão num instante estão secas. Recolher. Vou aliviar o seu lado: guardar no armário sem passar.
- cozinhar. Nada de especial. Um carreteiro de china pobre, por exemplo. Com as sobras do churrasco de domingo. Muita cebola, alho e pimenta. O tempero faz parte da vida. Vá fundo.
- pedalar. Vá para o interior. Dê um jeito de chegar até lá se você anda meio enferrujado. Nossa colônia é tão linda: na verdade você precisa é desenferrujar o seu olhar. Afinar a sensibilidade. Respirar. Manter contato com suas origens.
- refrescar os pés na água enquanto medita. Achou uma bobagem, não é? Tente.
- perder-se. Por ruas onde você nunca andou na cidade. Outros quintais, outros indicativos profissionais. Novamente, volto ao interior: desvie por estradinhas das nossas colônias. Mas leve um celular e uma garrafa de água gelada. (eu acrescentaria uma maquina fotográfica).
DEU?
Agora, valorize o seu “nada”.
Pare de choramingar e recolha o beiço.
E não fique aí pelos cantos dizendo que não suporta essa vida só porque terminaram as férias.
O problema é como você se suporta sem fazer nada criativo para curtir os outros dez meses do ano.
* Minha crônica deste findi no jornal Opinião, de Encantado.
2 comentários:
Os que tem a felicidade de viver na praia não necessariamente tem essa mesma visão do encerramento do veraneio. Eu sou um deles.
Vc largou o Weiss ou levou um pontapé no traseiro?
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