É DE SE JOGAR NA PONTE....

“O que me assusta é a idéia de ter Michel Temer como vice-presidente.
Ele é deputado há décadas e foi presidente da Câmara duas vezes.
Controla a máquina do PMDB e o Congresso à perfeição.
Vai compor a chapa com uma candidata que nunca teve mandato e é novata no PT.
O PMDB pode estabelecer um vice-presidencialismo, com um papel de protagonista que seria descabido.
Um PMDB que virou essa massa informe, que permeia tudo com clientelismo e é o maior partido do país.”

“Serra tem muita experiência e é um grande líder. Mas tem um problema sério.
Vou formulá-lo de maneira abrupta: e se Serra for um blefe?
O problema dele é esse: com a expectativa em torno de seu nome, ele vai fazer o quê no governo?
Não dá para entrar com o discurso de acabar com a corrupção, porque isso não dá muito refresco e depende mais da Justiça, dos tribunais de contas.
Hoje, o que torna sua candidatura difícil é não ter um discurso mais abrangente, além do anti PT, para atrair outros setores.
Serra está confrontado a um impasse. Não pode elogiar Fernando Henrique e não pode atacar Lula.
Na campanha, vai ter de prometer continuidade para os programas do PT.”




Alencastro vê no PT o risco de transformação do lulismo no varguismo que o partido combateu em sua origem:
“Esse pode ser outro motivo de inquietação.
Não é sadio para país nenhum a ausência de alternância política.
A transição de Fernando Henrique para Lula foi a primeira alternância que houve no Brasil dentro da legalidade democrática.
Uma democracia não é só ter partido político e eleição.
É preciso que a oposição também possa ganhar.
Se o Lula voltar em 2014, e ficar 8 anos, aí vamos ter 20 anos de PT na Presidência.

É um projeção, mas está no horizonte de gente como Aécio Neves, que deve estar inquieto.”

Luiz Felipe de Alencastro
historiador e cientista político
Jornal Valor do dia 09/04/2010