sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

MAIS UM TRISTE JANEIRO...

Lembram quando se aproximava o mês de Agosto e sempre tinha um agourento supersticioso por perto? “Olha aí o mês do cachorro louco...” E passava a desfiar tragédias ocorridas naquele mês - desde os tempos das navegações portuguesas. Rapariga alguma casava em Agosto. Muitas expedições embarcavam neste mês e as probabilidades de viuvez eram grandes. Sim, casar em Agosto trazia desgosto.

Os tempos mudaram inclusive no calendário.

Agora mal desponta Janeiro e todos já se arrepiam. De folhinha para cá, o primeiro mês do ano tem se mostrado aterrador. Tem quem culpe a Natureza, La Niña. Outros, a fúria divina. Sinceramente, não sei como Ele não desiste da gente.

Foi-se a época em que assistíamos aliviados, no sofá, as tragédias nos países ultramares: tsunamis, terremotos, vulcões, nevascas, grandes incêndios, furacões... Nossa maior desgraça ainda eram os políticos e a corrupção. Menos mal, diziam, morrem poucos nas filas dos SUS, nas secas do nordeste. Ahã.

Então, Janeiro principiou e conferimos assombrados as imagens dramáticas dos sobreviventes nos deslizamentos de terra no Rio, Minas e São Paulo.

Sim, Janeiro se mostra um mês impassível, cruel a cada início de ano.

As histórias de pessoas e crianças que conseguiram escapar da morte em Teresópolis, Nova Friburgo, Petrópolis são comoventes nesta que já é considerada uma das maiores tragédias do país. Você não agüenta mais ouvir sobre esse assunto, eu sei. Simples, para nos afastar da realidade basta desligar o controle remoto e dar um tempo para os jornais e emissoras de radio.

Mas, moramos no Vale do Taquari, onde parece que fritamos no caldeirão do Inferno. Um calor insuportável. Muito asfalto e pouca sombra.

Quem pode se refugia no gelor dos split.

Quem não pode deixa um trapo molhado por perto e vai se refrescando em frente a porta da geladeira, escancarada.

Caminhando por aí, vejo um casal sentado embaixo da sombra de uma única árvore no seu terreno. Pergunto para mim mesma porque eles já não plantaram outras árvores?

Agora, imagino que muitos devem olhar para suas próprias encostas na cidade onde vivem e suspirando se questionarem: e se tudo acabar amanhã, na próxima chuvarada?

Já pensaram se o alto do bairro Montanha em Lajeado desaparece de um dia para o outro? Se o Cristo Rei vem abaixo em Estrela? Ou se a Casa do Morro e aquele restaurante colado ao lado, despencam? E, se a Igreja Matriz em Encantado?..

Contamos com uma defesa civil precária para controlar um grande incêndio ou ajudar numa devastação como aconteceu em Marques de Souza e Pouso Novo, com o rio Fão completamente desvairado em Janeiro de 2010.

A cada estação, as cidades decretam calamidade pública: seca ou enchente. E o povo acaba se acostumando com as desgraças. Ou não.

A Mata Atlântica foi invadida. Espoliada. Alguém discorda.

Os pobres subiram o morro por falta de opção.

Ricos, pelo luxo do visual.

Ambos, predadores, destruindo e poluindo tudo.

É obvio que um dia a Natureza apresentaria a conta.

A Deus resta a abnegação.

Às vezes, alguns milagres.

* Crônica no jornal Opinião de Encantado e http://www.regiaodosvales.com.br

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